Graça: salvo para servir 2

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.” (Efésios 2.8-10)

A vida é uma sucessão de escolhas ou estamos todos destinados a fazer, ser e dizer o que já foi escrito? Na teologia essa questão divide pensadores e crentes. “Deus está no controle!”. Essa afirmação é bem comum em nossos dias. O que ela significa? Que os acontecimentos foram previamente definidos e organizados por Deus? Que Ele a tudo controla e, como escreveu o salmista, “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada”? (Sl 115.3). O que ele quis dizer? Somos protagonistas ou seres determinados por forças superiores e anteriores a nós? A oração de Jesus (Pai Nosso) nos leva a entender que somos protagonistas. Mostra que há um mundo cuja existência é uma história em andamento. Que a afetamos com nossos “sins” e “nãos”. Isso combina com a narrativa do Gênesis que afirma que fomos criados em similaridade com o Criador. Logo, também criadores de alguma forma e com o poder de estabelecer realidades por nossas atitudes e escolhas. E não apenas como vítimas das circunstâncias. E por que essas questões importam? Por causa das boas obras preparadas antes para as praticarmos!

O texto de Efésios diz que Deus, de antemão, ou seja, antecipadamente, preparou, pensou, idealizou boas obras para nós as praticarmos em nosso tempo, em nosso momento na história. Veja, Ele não determinou, Ele disponibilizou possibilidades em nós para realizar boas obras. Fazer a vontade de Deus envolve a nossa vontade! Sem a graça estaríamos escravizados pelo pecado, cujas marcas são a falta de amor a Deus e ao próximo, o egoísmo e a vaidade ou ilusão sobre a vida, que nos leva a buscar e nos dedicar ao que não importa de fato. Mas, pela Graça, somos salvos e recriados para podermos escolher as boas obras pensadas por Deus. Quais seriam elas para nós, hoje? Em pleno século 21, com todos os desafios que nos circulam? Desafios que, na verdade, são fruto do que sempre nos desviou de Deus e que Jesus viu no coração humano: preocupações materiais, medo da morte, ignorância quanto ao amor do Pai; amor ao dinheiro e desamor às pessoas. Males que habitam o coração e corrompem os lábios, as mãos e os pés. Ideias erradas sobre a vida,  sobre nós mesmos e sobre o próximo. Vida sem propósito, sem sentido e vazia de eternidade (Mt 5 a 7).

Mas pela Graça, em Cristo, somos reconciliados com Deus. E tudo se reveste de novidade. Agora podemos escolher as boas obras pensadas por Deus antes, para que hoje pudéssemos pratica-las hoje. Como poderíamos traduzi-las? Que tal usarmos as palavras de Francisco de Assis? “Senhor, faça de mim um instrumento da Tua paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé. Onde houver erro, que eu leve a verdade. Onde houve desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, faça com que eu procure mais consolar que ser consolado; mais compreender que ser compreendido; mais amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna.” A oração desse cristão é uma boa expressão de nosso chamado. Boas obras dizem respeito a ser e fazer. Como cristãos, é assim que temos sido e agido? Que a Graça prevaleça!

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