George Floyd

 

A ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel”,  Machado de Assis

Está semana o ex-policial que matou George Floyd foi condenado a 22 anos e meio de prisão nos EUA. A dor da família é forte e bloqueia a passagem do tempo, lembrar as imagens da ação policial gravadas por passantes que mostram Floyd gritando “Não consigo respirar” dói muito.

Porque a sua vida foi tão curta? Apenas quarenta e seis anos. A resposta está na história, a raça negra avançou , ao longo do tempo pelo caos, vivendo sempre situações sórdidas, como a escravidão aqui no Brasil, que foi uma ignóbil e indelével realidade em nosso país por mais de trezentos anos, nos poucos mais dos quinhentos de nossa existência. Estou lendo o livro ‘Escravidão’ de Laurentino Gomes, e tem várias passagens inacreditáveis em relação ao sofrimento da raça negra, uma delas coloco aqui: O holandês Dierick Ruiters, que , em 1618 , passou um ano preso no Rio de Janeiro relatou: “Vi um negro faminto que, para encher a barriga, furtara dois pães de açúcar ( bloco de cristal no formato de um pão caseiro no qual o açúcar bruto era comercializado assim que saía do engenho). Seu senhor, ao saber do ocorrido, mandou amarrá-lo de bruços a uma tábua e, em seguida, ordenou que um negro o surrasse com um chicote de couro. Seu corpo ficou, da cabeça aos pés, uma chaga aberta, e os lugares poupados pelo chicote foram lacerados a faca. Terminado o castigo, um outro negro derramou sobre suas feridas um pote contendo vinagre e sal. O infeliz, sempre amarrado, contorcia-se de dor. Tive, por mais que me chocasse, de presenciar a transformação de um homem em carne de boi salgada e, como se isso não bastasse, de ver derramarem sobre suas feridas piche derretido. O negro gritava de tocar o coração. Deixaram-no toda uma noite, de joelhos, preso pelo pescoço a um bloco, como um mísero animal, sem ter as suas feridas tratadas “.

Durante décadas, e ainda hoje, vivemos sob o mito, ideologizado, da democracia racial, a escamotear um racismo sempre presente, ínsito, oculto, furtivo, velado e latente.

João Misael Tavares Lantyer

 

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