Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito”. (João 3:5)
Como vimos anteriormente, a capacidade de retração existencial a fim de que outro ser possa ser gestado e desenvolva vida é uma das potencialidades que Deus tem e presenteou o feminino com essa característica também. Um Deus que deseja em toda Sua majestade e força que exista outro ser autônomo no universo. Para isso, em certo sentido, Ele precisa enfraquecer-se. A esse movimento de enfraquecimento chamamos de Kénosis. Segundo o livro de Filipenses, Jesus experimenta essa Kénosis ao abrir mão de Sua glória e poder, esvaziando-se a Si mesmo e sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Deus foi capaz de fazer isso a fim de que tivéssemos livre acesso à Sua presença e que essa presença pudesse habitar em nós. Linda retração.
É bem provável que muita vida deixe de existir devido à falta de retração. Como assim? Vivemos em uma sociedade em que constantemente as pessoas são ensinadas a conquistarem o seu espaço, crescerem, conquistarem, olharem pra si mesmas, etc. Falta retração. Falta saber que é importante o “não ter todo espaço pra si” para que um tipo de vida seja possível. Temos muita dificuldade em ensinar cidadãos a serem fracos, a aceitarem suas fraquezas e lidarem com elas. Sejamos sinceros, nosso discurso normalmente é muito triunfalista e nele não existe essa tênue da fraqueza. O mercado de trabalho a cada dia exige mais e mais força de sua mão de obra e talvez esse seja um dos motivos pelos quais não ensinamos e não aprendemos a Kénosis com Cristo Jesus.
Por isso é admirável esse papel da mãe, e esse papel de Deus, de recuar o quanto for necessário para que surja vida, liberdade e autonomia. A autonomia que Deus quer nos conduzir talvez seja um pouco diferente da nossa, pois por mais que Ele nos deseje como seres livres, Ele nos deseja dependentes. Mais um paradoxo da fé cristã. Liberdade e dependência. É a mãe que deseja que seu filho vá e seja feliz, mas que volte e compartilhe essa felicidade. É impressionante o quanto é poderoso esse enfraquecer-se. Se Deus não tivesse sido assim, não estaríamos aqui hoje. Assim como se a nossa mãe não tivesse feito isso também, tampouco seria possível vivermos. Que nos dia de hoje então sejamos gratos a Deus pela Kénosis e também desejemos aprender algo com ela.
Pr. Rodolfo Rodrigues Pereira