Profissionais comentam os erros da enfermagem mostrados na mídia

Da redação

Fiscal do Coren e coordenadora do curso de enfermagem da Pitágoras

Desde algum tempo, a mídia brasileira vem veiculando fatos acontecidos nacionalmente com profissionais e estagiários dos cursos de Enfermagem, fatos que essa mesma mídia classifica, em muitos casos, de imperícia e descaso.

A reportagem do jornal O Sollo ouviu o enfermeiro Aélio Duque da Silva, enfermeiro fiscal do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (COREN/Ba), e a enfermeira professora Jucimara Zocolotti de Aquino (coordenadora do curso de graduação em Enfermagem da Faculdade Pitágoras) que colocou a sua preocupação com generalizações e afirmou a preocupação do Conselho em lutar para sanar as falhas porventura existentes.

Aelio Duque da Silva

“Chamamos esses erros de iatrogenia no cuidado, já que a Enfermagem é a profissão do cuidado humano. Tais erros são mais realçados para a sociedade quando levam a danos permanentes ou mesmo à morte. Nessas ocasiões, eles são veiculados exaustivamente nos meios de comunicação em massa. Para muitos profissionais, todo esse turbilhão de notícias tem feito uma antipropaganda da profissão, pelo que se evidencia e discute o erro em si e o sujeito causador e, muitas vezes, não se procura saber das razões condicionantes e determinantes dos eventos.

Por outro lado, a sociedade precisa saber de forma consciente das mazelas que cercam esse profissional no setor da saúde, para poder cobrar providências, e não somente no que concerne ao recorte dos erros da Enfermagem, como também em outros aspectos que ocasionam tais fatos. Uma conjunção de fatores precisa ser considerada, pois nenhum agente isolado prepondera nesses casos. Podemos sublinhar aqui a má qualidade de ensino, a falta de capacitação dos profissionais, a sobrecarga laboral, o subdimensionamento de profissionais nas instituições públicas e privadas, a falta de equipamento e condições para um trabalho digno e o erro humano, que não fica fora desse rol.

Realmente, somos aquele profissional do cuidado, que se doa com amor, que atua como verdadeiros heróis no intuito de salvar vidas, por vezes compelidos a negligenciar a nossa própria família pela profissão. É ínfimo o percentual de profissionais ruins, que atuam sem comprometimento, sem zelo pela vida. Assim sendo, a qualidade de vida e de trabalho da enfermagem, correlacionada com a segurança do paciente, precisa ser discutida.

A categoria sofre com péssimos salários. Profissionais são condenados a laborar em 2, 3 empregos ou subempregos para sobreviver, cumprem uma jornada de trabalho extenuante, tudo isso sem um reconhecimento social e sendo vítimas de um sistema perverso. Existem evidências científicas apontando que, a cada 1 paciente a mais por profissional de Enfermagem, aumenta em 7% a mortalidade. Outros estudos concluem que a Enfermagem intercepta 86% dos erros de medicação provindos dos processos de prescrição, transcrição e dispensação. Isso mostra que a Enfermagem, na vanguarda, realiza procedimentos diversos, entre eles, a administração de medicamentos e, mesmo sofrendo com o insuficiente quantitativo de profissionais na equipe, tem evitado que erros de outros causem prejuízos ao paciente.

Por todo o Brasil, chegam aos Conselhos Regionais de Enfermagem – CORENs, um número crescente de denúncias envolvendo profissionais da Enfermagem. “Isso tem causado, sobremodo, um desassossego nos dirigentes e colaboradores do sistema COFEN/CORENs, que têm ampliado suas ações, especialmente nos interiores, com atividades fiscalizatórias, educativas e preventivas, cumprindo a parte que lhe corresponde que é, finalmente, a de proteger a sociedade e o bem maior, a vida. Tudo o que discutimos aqui remonta às carência de uma ampla discussão, talvez outra discussão, a de fundo. Os governantes, os legisladores, os núcleos acadêmicos, o poder judiciário, os profissionais de Enfermagem com suas entidades representativas e a sociedade, precisam querer se defrontar com o problema. É imperativo. Todos nós estamos sujeitos às iatrogenias. Que todos sejam conscientes e postulem mudanças por uma assistência mais segura e humana”.

Jucimara Zocolotti de Aquino

“A formação de um enfermeiro nos prepara para atuar em diversas áreas no setor saúde, além de executar várias funções como gerencia e liderança, assistência direta ao paciente, auditoria, educador etc.; sendo assim um profissional indispensável. Por este motivo muitas vezes assumimos diversas funções, uma vez que sua formação é generalista, o que resulta em sobrecarga de trabalho, reflexo disso é a falta de tempo para educar e supervisionar a equipe de enfermagem (técnicos e auxiliares), na intenção de minimizar estas iatrogenias.

Enquanto os estabelecimentos de saúde em diversos locais do Brasil não cumprirem com o dimensionamento de pessoal recomendado na resolução 293/2004 –COFEn, iremos continuar com falta de profissional no mercado de trabalho, dificultando assim prestação de uma assistência de enfermagem com qualidade”.

 

 

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