Neste mês em que nasci, uma onda de lembranças toma conta de mim.
O gosto metálico da água de mangueira que eu bebia quando criança. Todas as experiências físicas de que eu gostava. O cheiro da chuva fazia-me lembrar de estar sentado na varanda do chalé com meu avô, olhando para as nuvens. O céu parecia ser infinito. A tempestade iminente o deixava com uma deslumbrante mistura de azul, roxo e vinho.
Tudo muda, e eu também mudei após tantos fevereiro(s), quem não muda? A vida é assim. De repente, olho no espelho, no mesmo espelho em que olhei em outras manhãs da vida, e, de repente, aquela rugazinha ali, de onde é que veio? O cabelo começa a cair, e os dentes, ah, já não podem morder rapadurinhas.
E minha vida nunca pode ser refeita. Pegue uma folha de papel e a rasgue. Você pode colar todos os pedaços, mas os rasgos, as dobras e a fita adesiva ainda vão estar lá.
O segredo para uma boa vida é ter mais começos do que fins, e é isso que vou fazer.