Abro novamente o livro e continuo a ler: “Felicidade é viver com o necessário, buscar a elegância ao invés do luxo, o requinte ao invés da extravagância, ser digno e não respeitado, bem-sucedido ao invés de rico, estudar muito, ouvir as estrelas e os pássaros, dar de se com o coração aberto, enfim reagir cordialidade a tudo”. Penso neste ensinamento de Og Mandino.
Nesta noite o sono não me bateu com força nem conseguiu me afundar nas profundezas, onde tudo é macio e a gente se perde do mundo, mas me deixou em um limbo, que era como dormir acordado, preso a um espaço minusculo entre as pálpebras fechadas e os olhos, pensei, amo o movimento da vida.
Quantas vezes estive cansado. Infeliz da minha completa impossibilidade, cativo da hora impraticável, faltado de todo o bem-querer humano, faltoso a todos os meus compromissos e, mesmo assim, estive certo dessa manhã, que nos aguarda a todos. Há uma série de acontecimentos recentes em minha vida, que só por eles jamais poderia dizer que não sou feliz. Poderia enumerar alguns: a noite que acabo de dormir, pesadamente, tomar vinho.
Meu amigo, abra uma janela de sua casa — a que dá para o mar ou para a montanha. Procure o mundo e dê-se por perdido. Viva, sem a nervosia de procurar-se a si mesmo, porque cada um de nós é um perdido, um ilustre perdido, na humanidade varia e numerosa. Viva, que no fim dá certo. Nada há definitivo no mundo, nem o infortúnio, nem a prosperidade. O que a tua imaginação supõe estar perdido, acha-se apenas transviado ou oculto. Como deveis saber, há em todas as coisas um sentido filosófico. E, para começar, emendemos Sêneca.
Cada dia, ao parecer daquele moralista, é, em si mesmo, uma vida singular, por outros termos, uma vida dentro da vida. Não digo que não; mas por que não acrescentou ele que muitas vezes uma só hora é a representação de uma vida inteira? Aliás, hoje pode-se levar no bolso nossa vida digital, Internet, e-mail, música, TV, filmes, fotos, arquivos de documentos e até telefone. Estes novos tempos são feitos de um susto atrás do outro. O homem moderno é obrigado a ter olhos dilatados. O telefone celular, na era eletrônica, lembra o canivete suíço na era mecânica: servia para tudo. Hoje, somente em pescaria.