Hoje não se lê, passam rapidamente as telas no celular. Antigamente, a ciência era um pequeno campo que se percorria num instante, levemente, gastando pouco o olhar sem atenção. Hoje, que tudo é imenso e exagerado, nesta vida fluida, cujo verdadeiro nome é “espasmo”, pouco se pode ler; as notícias sucedem-se; história, romance, críticas, ciências, tudo nasce, passa, voa, é lido, estudado, esquecido e lançado ao lixo. Para colher uma ideia, para saber um fato, para escolher uma opinião, é necessário ir de uma notícia a outra, sem cessar, correndo, ler uma página, relancear a vista por uma tela de celular, e ver de relance uma informação. Hoje há mais coisas a saber: o menor sábio não estará satisfeito se não ler informações em mil sistemas.
Quem sabe onde nos levará este abuso do espírito? As faculdades mentais estão viciadas, as inteligências doentes. O simples, o natural, são-lhe odiosos; querem o excessivo. A vida moderna tem uma característica: “inchada”. Onde antes estava a simplicidade, hoje tem-se posto a tortura; a tortura, outra palavra que exprime bem a nossa época. Onde antigamente descansávamos, hoje estamos sempre aos pulos. Isto chamam alguns de progresso, eu acredito ser o triunfo da febre da pressa. Febre Constante: a vida é de ação e reação. A idade Média foi um grande jejum de movimento, hoje é a febre do movimento doido. Depois disto, virá um grande acontecimento? Virá, mas que não seja o do dilúvio.