Eu passava pela rua depressa, emaranhado nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Um mendigo estendeu a mão, a sujeira e o sangue inteiro davam um tom quente de pele. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Ainda em dúvida se fora a mão deste mendigo que ceifara os pensamentos.
Um pão, moço, compre um pão para mim. Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de encontrar o mendigo? Sem olhar para os lados, por pudor, talvez, sem espiar as mesas da padaria, fui ao balcão e disse, três pães para este mendigo. Era inútil voltar aos pensamentos anteriores. Ao entregar, ele deu um profundo suspiro de contentamento e foi embora. A tensão terminara. O alívio de ter tirado o nó do coração. Este era meu sentimento. Amo o movimento da vida. Sozinho com meus pensamentos, com minhas atitudes, com meus receios novos, e dispensando os antigos, digo não gosto de dar esmola, mas gosto de indicar alguém para um emprego, ajudar nos estudos, etc.