Escrever

Escrever

Escrever é seduzir. Escrita é um pensamento refinado. Comecei a ler com vinte anos, incentivado por meu pai, lembro que naquela época tinha um representante da Barsa que foi na nossa casa, e ele comprou a coleção e também tinha as obras completas de Machado de Assis.

Escrevo todo dia, mas sou cronista uma vez por semana. A minha capacidade de captar o assunto é muito variável. Às vezes, pode ter um acidente de carro, e morrer dez pessoas e não consigo dizer nada. Outras vezes, não. Sobre simples passarinho que salta de um galho a outro e coça a asa com a ponta do bico, posso escrever bem. O assunto é, portanto, a ressonância de um acontecimento qualquer em volta de nós.

Deste mês, por exemplo, começou o inverno, e o clima fica mais frio. Na rua, passa uma mulher bem vestida. Uma velhinha passa escorada numa bengala, passeando um cachorro. Ligo em cima de mim o ar-condicionado. Ele me solta no rosto um vento sem importância, que mal daria para apagar um bolo de velas. Não sou Deus ou o destino. Sou apenas o instrumento do acaso.

E continuou escrevendo devagar, no cálido ar da noite, com as ruas vazias. Inspiro o ar frio. Sento na escrivaninha ao lado da janela aberta e fico encarando as estrelas. Qual o significado de tudo o que definira minha felicidade? Viro-me para o lado e olho para a rua em silêncio. De tempos em tempos, o som de passos se eleva e depois desaparece. Alguns versos de um poema passam pela mente, a música de Coldplay voltou a soar nos meus ouvidos. Agora vou deitar.

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