O projeto Escola sem Partido vem gerando um intenso debate na sociedade brasileira por querer banir das salas de aula a doutrinação ideológica/partidária imposta por muitos professores militantes políticos. O relato de uma professora cristã convidada para a Comissão que analisa a proposta é mais uma prova disso.
Ana Caroline Campagnolo é professora de história e relatou que sofre perseguição no trabalho e também na universidade onde desenvolveu sua tese de mestrado por se opor ao movimento feminista contemporâneo.
“Estou aqui para mostrar existe sim doutrinação [em escolas e universidades]. Na verdade, negar que existe doutrinação é perder o senso da História. Desde a Era Vargas a Educação é doutrinadora e ela só foi mudando o seu plano de doutrinação”, enfatizou.
A professora revelou que a pressão que sofreu durou dois anos enquanto era orientada por uma professora ativista em uma universidade pública. “Meu caso […] se tornou uma ação por danos morais no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. no juizado especial. É o caso de doutrinação e perseguição religiosa de uma professora que começou em 2013 e se estendeu até 2015”, explicou.
“Assim que eu ingressei e a professora teve acesso ao meu projeto, ela foi super educada comigo e inclusive me mandou um e-mail, dizendo que estava feliz pela orientação do meu trabalho, que eu era nitidamente crítica e interessada”, contextualizou, afirmando que o entusiasmo da orientadora durou pouco.
Colegas mestrandos passaram a criticar a fé de Ana Caroline Campagnolo e sua visão sobre temas como o feminismo e outras questões ligadas ao movimento de esquerda, e a professora orientadora passou a persegui-la, de forma contundente.
“Na semana seguinte, no início das aulas, alguns dos meus colegas me denunciaram para a professora, porque eu tinha algumas fotos na internet, com a minha família e alguns versículos da Bíblia. A minha professora resolveu me mandar alguns e-mails, me questionando como eu ousava publicar nas redes sociais pensamentos assim tão ‘perigosos’”, relatou.
“Estou recebendo estes links do seu Facebook pessoal, onde você se mostra anti-feminista e eu como professora, estou sendo cobrada porque te oriento. Você tem todo o direito de ser antifeminista ou conservadora, mas não combina com esta pesquisa, nem com as práticas que temos acerca das conquistas”, dizia trecho do e-mail enviado pela orientadora à mestranda.
Campagnolo questionou os parlamentares – após compartilhar seu caso – se uma professora teria direito de, sozinha, definir o posicionamento político de uma universidade pública e criar dificuldades para uma mestranda.
“Vamos conversar sobre isso, mas peço a gentileza de você analisar melhor as coisas que compartilha”, acrescentou a professora no e-mail, que foi lido na íntegra por Ana Caroline Campagnolo.
Pressão
Durante o depoimento na audiência pública da Câmara dos Deputados, a professora cristã Ana Caroline Campagnolo disse que, inicialmente, recebeu um pedido de desculpas da orientadora por causa da forma “incisiva” que havia se oposto à sua fé e ideologia. No entanto, posteriormente, a ativista voltou a atacá-la.
“Todas nós, mulheres, que estamos aqui estudando, passamos em um programa de mestrado porque nós pudemos… e nós podemos isso porque algumas pessoas no passado fizeram o caminho e não se nasce mulher, torna-se mulher. O mais importante movimento do século XX é o feminismo e a mais importante revolução provocada por essa onda é a revolução sexual”, afirmou a orientadora em sala de aula. A declaração foi gravada por Ana Caroline Campagnolo e apresentada na audiência pública.
“Se nós acreditamos nisso, se nós estamos aqui nesse curso, nós passamos nesse curso, nós estamos aqui, nos matriculamos dentro de uma perspectiva de pensamento de uma linha de pesquisa”, acrescentou a professora, sugerindo que a mestranda deveria mudar sua abordagem e pensamentos.
Comentando a postura da ativista que se vale de sua função na universidade para doutrinar mestrandos, a professora cristã foi enfática: “Eu não me matriculei em uma perspectiva de pensamento. Eu me matriculei no ensino público. Não importa a minha religião, a minha concepção. Se eu for feminista ou anti-feminista, isso independe da minha participação nessa disciplina”, frisou.
Doutrina
O Escola sem Partido pode ser definido como a versão moderna do conceito de Estado laico criado pela Reforma Protestante. O segundo protegia o direito das pessoas à religião sem influência da Igreja Católica, enquanto o Escola sem Partido quer proteger o direito à educação sem doutrinação partidária.
Recentemente, o sociólogo cristão Thiago Cortês, colunista do Gospel+, participou do programa Entre Aspas, da Globo News, e debateu a essência do projeto Escola sem Partido, explicando que atualmente os conceitos filosóficos usados pelos professores pertencem a uma única linha de pensamento, de clara orientação esquerdista.