“Quem me levará à cidade fortificada? Quem me guiará a Edom? Não foste tu, ó Deus, que nos rejeitaste e deixaste de sair com os nossos exércitos?” (Salmos 108.10-11)
Como reagimos quando Deus não nos responde como gostaríamos? Quando ele “deixa de sair com nossos exércitos”? Situações como essas também podem fazer parte de nossa adoração? Podem estar presentes em nossos salmos pessoais? Sim, sem dúvida. Se não estiver, talvez signifique que não estejamos dedicando a Ele uma adoração verdadeira e portanto aceitável. Talvez signifique que estejamos fazendo orações que sejam mais fruto de nossa mente do que verdades do nosso coração. Quando Deus não nos responde como gostaríamos, há duas reações típicas que podemos ter: podemos pensar que não somos amados ou não merecemos seu amor e podemos pensar que Ele não seja realmente o Deus que pensávamos que fosse. Culpa dirigida a nós ou raiva dirigida a Deus.
Afinal, Deus é aquele que tudo pode, é completamente bom e ama as pessoas. Se Ele não me ouve, se não responde favoravelmente a mim, isso me deixa confuso. Uma daquelas afirmações talvez não seja verdadeira! Nossa relação com Deus exige nosso amadurecimento e quando não vem, ela fica difícil ou transforma-se numa ilusão. Eugene Peterson escreveu algo interessante: “Não podemos transformar Deus num objeto: Deus não é algo a que damos um nome. Não podemos transformá-lo em uma ideia: ele não é um conceito para ser discutido. Não podemos usar Deus para criar ou fazer algo: Deus não é um poder que possa ser controlado.” E podemos afirmar que não fazemos essas coisas… mas às vezes fazemos sim! Deus então nos frustra, decepciona. E precisamos “desfazer o bico” e voltar à fé: Deus me ama e sabe bem o que está (ou não está) fazendo!
Isso também é parte do que seja adorar na fé cristã. Lutar com Deus e falar a Ele as verdades que achamos que Ele precisa ouvir, é indispensável para que haja relacionamento e adoração. Afinal, nossa fé é num Pai Amoroso que manifestou-se para relacionar-se conosco e não num ídolo a que devemos prestar reverência impessoal e cega. Por isso adorar é ir a Deus com toda nossa verdade e aguentar as consequências – como lemos no livro de Jó. O final da adoração cristã será sempre mais proximidade com Deus – “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.” (Jó 42.5) – mais conhecimento de nós mesmos e da vida. Logo, mais maturidade e uma espiritualidade mais saudável. Condições que nos levam a uma adoração mais verdadeira. E mais maturidade e espiritualidade… um ciclo virtuoso! Isso jamais será fruto de um programa litúrgico, embora possa acontecer por meio dele. Isso exige nossa presença verdadeira, quebrantamento e entrega.