É preciso estar bem para se fazer o bem

“Não retribuam mal com mal nem insulto com insulto; pelo contrário, bendigam; pois para isso vocês foram chamados, para receberem bênção por herança.” (1 Pedro 3.9)

A fé cristã é relacional e relacionamentos não são fáceis, como todos sabemos. É o aspecto mais desafiador de nossa vida! É mais fácil se dar bem nos negócios, com todas as suas dificuldades, do que permanecer casado e feliz ao longo da vida, por exemplo. Mas a vida cristã nos chama a edificar relacionamentos, a não se deixar determinar pelas circunstâncias, mas fazer o melhor em cada situação. No caminho de nossa fé somos ensinados a amar e jamais vingar-se. O amor deve ser praticado mesmo em relação aos que se fazem nossos inimigos, mesmo em face dos que agem para nos prejudicar. Somos sempre incentivados a encontrar formas de não retribuir na mesma moeda. Por isso Pedro pede aos cristãos para que não retribuam mal com mal e nem insulto com insulto. Pelo contrário, falem bem dos que os maldizem.  É belo isso, mas não é fácil. Pensar assim é admirável, mas agir dessa forma é muito difícil. Porém, essa é a nossa fé. Crer é mais que saber essas cosias, é lutar por esse ideal.

Todavia, talvez caiba aqui uma ressalva: esse compromisso com a bondade e com o bem não deve nos desumanizar, nos adoecer, nos transformar em pessoas de plástico, castradas em sua natureza emocional ou adoecida em sua autoestima. Não deve nos fazer pessoas apáticas – sangue de barata, como dizem alguns. O apóstolo não está dizendo que não podemos sentir indignação, que não podemos nos revoltar, nos irritar. Ele não está nos pedindo para reprimir nossas emoções e engolir todos os sapos. Ele está nos pedindo para não nos deixarmos dominar pelo que pode ser destrutivo para nós e para o outro. É importante entender isso para não adoecermos. Para não confundirmos virtude, que é o que o Evangelho nos chama a desenvolver (e que envolve saber lidar com a vida, com nosso corpo, com nossas emoções), com castração emocional, negação de si num nível adoecedor, desumanizador. Seguir o caminho do Evangelho não significa que tenhamos que negar a nós mesmos o direito de sentir o que sentimos, mas aprender a lidar com isso. Afinal, o Evangelho nos propõe vida!

O Evangelho nos chama ao equilíbrio, ao domínio próprio necessário para sabermos lidar com a inconveniência, agressividade e mesmo maldade do nosso próximo. “Quando vocês ficarem irados, não pequem. Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha, e não deem lugar ao diabo.” (Ef 4.26-27) Esse é o espírito do Evangelho. E isso não se alcança pela força, mas pelo amor e pela graça. Pela influência do Espírito Santo sobre nós. Pois é preciso estar bem e ser saudável para agirmos com amor, para sermos capazes de fazer o bem aos que nos ofertam o mal. E tudo isso vai tomando lugar em nossa vida na medida em que vivemos uma fé relacional. Se for uma fé ritual, apenas receberemos as cargas impostas por regras e adoeceremos. Ouviremos sobre nossos deveres sem que sejamos nutridos pelo amor e o cultivemos na vida, amando a Deus e ao próximo. Por isso há tantas pessoas que acumulam anos de religiosidade e são noviços na vida cristã.  É preciso estarmos bem se queremos fazer o bem. Afinal, como daremos aquilo que não temos? Que sejamos nutridos pelo amor, graça, misericórdia, paciência e bondade de Deus. E que ofereçamos isso aos outros. Sempre!

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