Duas vezes

Duas vezes

Aconteceu-me duas vezes, mas da segunda vez me impressionou mais porque ao caráter anônimo inusitado da cena veio somar-se a desagradável sensação de estar vivendo uma coisa pela segunda vez. E ninguém gosta de sentir mais de uma vez na vida que está vivendo pela segunda vez uma coisa que se repete. Nas duas vezes vi um celular tocar, não era o meu, olhei o banco e vi que alguém esqueceu, o motorista do Uber era cinquentão,  que deixou seu emprego, recebeu uma pequena indenização e foi rodar para se virar.

Entreguei a ele, que deu seu endereço para o aflito descuidado resgatar o celular. A segunda vez foi um envelope pardo que dei ao motorista sem abrir. Os dois motoristas diferiam porque eram motoristas diferentes, pessoas diferentes, cabe dizer assim. Os dois motoristas eram cinquentões, o primeiro tinha a pele do rosto azeitonada e nariz aquilino e eu achei que era decedente de espanhol.. “Raça espanhola, deve ser.” O segundo motorista, havia em seu rosto algo de italiano uma pinta com pelos. Mas resumo: o primeiro espanhol, o segundo italiano, isso diferenciava nitidamente para mim os dois motoristas. O espanhol disse, se o senhor não devolvesse o passageiro pensaria que fui eu. O segundo motorista não tinha nenhum contato para devolver o envelope. A arte de perder não é nenhum mistério; Tantas coisas contêm em si o acidente, mas nestes momentos conhece-se a índole do ser humano.

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