Quando estou com febre me sinto gelado, mesmo que meu corpo esteja uns graus acima da temperatura normal. Minha pele fica mais sensível. Quando meu corpo e o mundo exterior estão bem, estou em harmonia. Meu corpo anda pelo mundo, rodeado de ar, em contato com superfícies e coisas. Quando a febre chega, o grau de sensibilidade aumenta, e o corpo é, por assim dizer, retirado dessa zona de intimidade com o mundo, que fica estranho. A percepção do tempo se transformam durante a febre.
Mas algo que gostava na infância eram os cuidados que recebia. Vinham os privilégios. Comida na cama. Uvas. Gibis novos. Com a febre vinha a atenção. Perguntas constantes sobre como eu estava, como eu me sentia. A mão na testa, a mão afagando os meus cabelos. Com a febre passamos os dias seguintes em estado crepuscular. Perdemos completamente o interesse pelo que nos rodea, e mergulhamos numa realidade que substitui por completo o mundo dos vivos pelo estado de letargia.