Para Dilma, Temer teve “sincericídio brutal”: “Confissão de golpe feita pelo próprio autor”
A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou, nesta sexta-feira (21), que não vê qualquer possibilidade de o seu sucessor e ex-vice, Michel Temer, não concluir o mandato. “Não existe a menor hipótese de tirarem o Temer. Não vão, não. É o cara que está fazendo o trabalho sujo. Enquanto ele estiver fazendo esse serviço, a aliança que o sustenta não deixa ele cair. Enquanto isso, aumenta o desgaste político e econômico do país”, declarou a ex-presidente em palestra organizada pelo coletivo “Boston contra o golpe”, nos Estados Unidos.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa pedido de cassação da chapa encabeçada pelos dois em 2014. O julgamento foi iniciado na primeira semana de abril, mas só deve ser retomado em meados de maio.
Durante o debate, a ex-presidente chamou de “sincericídio brutal” a declaração de Temer, em entrevista à TV Bandeirantes, de que ela sofreu impeachment porque o PT se recusou a salvar o mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética. “Temer teve um sincericídio brutal. Eu fiquei perplexa”, disse. “Todo mundo sabia disso em Brasília”, acrescentou. Para ela, o episódio chama a atenção por se tratar de “uma confissão de que houve um golpe feita pelo próprio autor”.
Dilma contou que se arrepende de ter feito aliança com o peemedebista e que jamais teria se aproximado dele se soubesse do seu “nível de absurda traição”. “Ele não tinha voto nem para deputado federal”, ironizou.
Para ela, o país vive um momento perigoso de desqualificação da política e dos políticos. “A elite golpista quer tornar a política irrelevante, criando-se condições a uma despolitização grande para surgimento de salvadorezinhos da pátria”, declarou. Embora tenha desconversado sobre a hipótese de voltar a disputar a eleição, a petista afirmou que continuará a fazer política, com ou sem mandato. “Dos 15 aos 63, eu não tive cargo político e fiz política o tempo inteiro. Até fui presa, veja só. Eu vou fazer política.”
Dilma tem passado pelas principais universidades dos Estados Unidos, onde tem se encontrado com professores, estudantes e representantes de entidades denunciando que foi deposta não por um processo de impeachment, mas por um “golpe” parlamentar.