Devoção desafiadora

“É por sua piedade que ele o repreende e lhe faz acusações? Não é grande a sua maldade? Não são infindos os seus pecados? Sujeite-se a Deus, fique em paz com ele, e a prosperidade virá a você.” (Jó 22.4,5,21)

A história de Jó nos é contada tendo como pano de fundo um desafio dramatizado por Deus e o Diabo. Este afirma que a devoção humana a Deus é apenas uma relação comercial, um jogo de interesses – se Deus quiser adoração terá que fazer por merecer; que pague por isso! Deus aposta em Jó para desmentir o Diabo. E então a vida de Jó torna-se um inferno. O Diabo o atinge com força e arranca todos os motivos devocionais, todas as razões de adoração e gratidão. Uma fé funcional não resistiria a isso e facilmente concluiria: “Amaldiçoe esse seu Deus e morra!” – palavras ditas pela mulher de Jó. Ou procuraria uma saída lógica: “Essa dor é castigo por pecados! Conserte-se e tudo ficará bem” – palavras ditas por Elifaz, amigo de Jó.

A pressão sobre Jó era intensa e ele, como qualquer de nós, poderia estar chegando ao ponto de buscar qualquer saída, tornando-se um aventureiro espiritual. Saindo em busca de uma resposta, uma solução pois, se não está funcionando onde estou, procuro outro lugar. Quem sabe o que esteja faltando não seja um certo tipo de oração, uma certa dose de poder? Não é fácil esperar em Deus quando está doendo e é muito fácil trocar de verdade apressadamente, as coisas não estão funcionando. Em crises é muito fácil relacionar dor e culpa, como fez Elifaz. Quando tudo o que buscamos é algo que funcione, nossa fé está em grande risco. É saudável avaliarmos a nós mesmos e estar abertos para possibilidades espirituais, mas a ânsia por obter o que queremos pode nos cegar e nos levar a andar para trás na fé, enquanto pensamos que estamos progredindo!

O grande perigo da fé funcional é o fato de ser tremendamente lógica. O discurso dos amigos de Jó fazem muito sentido! O de Jó beira ao absurdo! Mas o livro nos indica Jó como um guia devocional e não seus amigos. O caminho de Jó nos diz que não poderemos controlar a vida pela fé e que poderemos sofrer injustamente, enquanto injustos parecem se dar bem. A devoção de Jó é a de quem fica com Deus apesar da vida e do modo como Deus está deixando as coisas acontecerem. É um chamado a crer no amor de Deus, cuja maior prova é Cristo, ainda que Suas decisões que nos deixem indignados. Uma devoção desafiadora, sem incentivos, desapegada de recompensas. Pergunto-me: como pode ser isso? Mas este livro me leva a entender que por meio de Jó Deus está nos dizendo que é assim e que é possível.

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