Dever de casa

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”. Immanuel Kant (1724 – 1804).

Desde os primeiros tempos da escola, independente das épocas já distantes, e, em particular, analisando-se as duas ou três ultimas gerações, das quais o autor destas linhas teve a oportunidade de vivenciá-las, em planos diferenciados e dupla participação discente ou docente, o dever de casa sempre esteve presente , seja como obrigação do aprendente, seja como estratégia formal pedagógica de ensino e aprendizagem à conta do mestre e da escola.

Esta exigência aplicada à formação daqueles iniciantes, como trabalho escolar na caminhada em direção ao conhecimento, tomou contornos outros ao longo do tempo na vida do cidadão. Na atualidade extrapolando espaços, indo além da organização e execução dos exercícios escolares, das leituras e interpretações dos textos, a fim de serem internalizados após reflexão, análises e sínteses, cumprindo-se em consequência a doutrina da aprendizagem e da apreensão do conhecimento.

E por que foi além do ensino e tomou sentidos sociais outros?

Se, antes, dever de casa tinha por foco a escola, hoje, a mídia o expõe como obrigações fundamentais do homem na sociedade – o dever de casa do cidadão, do profissional, da autoridade ou do político -, dando-lhe uma elasticidade valorativa extramuros escolar que, por vezes, não se realiza, até em costumeiras questões do viver coletivo.

Ao aprendente que não cumpre suas obrigações estudantis, incumbe ao professor e à escola medidas orientadoras, disciplinadoras até, para o equacionamento, o ajustamento de conduta recomendável ao retorno à caminhada em busca do saber, condição indispensável à formação e à sua transformação como educando e futuro membro da sociedade.

E àqueles outros que não cumprem “o dever de casa”, sequer “o feijão com arroz” das obrigações e deveres sociais, o que lhes indicar nesses tempos bicudos em que a formação moral e ética parecem distantes, valores esquecidos e não respeitados, por suas condutas reprováveis?

Mahatma Ghandi afirmava a importância da família, como o núcleo básico estruturador da formação inicial dos valores do cidadão, ao declarar: “Não há escola que se iguale a um lar decente, nem professores que se igualem a pais honestos e virtuosos”. Aí se inicia o dever de casa, através da educação domestica, do exemplo dos pais e de suas recomendações, talhando o caráter do aprendente, impregnando-o dos valores que o meio social consolidou e os seus pais adotaram como membros “virtuosos” acatados e por ela respeitados.

O desrespeito às regras de conduta social desejável não se constitui, apenas, em “pecado original” às custas da ausência da educação doméstica;é a crença na impunidade, de não atentar para os direitos do próximo e não corar de vergonha ao trilhar caminhos tortuosos e marginais.

Neste particular, vale aqui o pensamento de Capistrano de Abreu, historiador brasileiro do século passado, que propôs uma Constituição para o Brasil com, apenas, dois artigos: “Artigo 1º – Todo brasileiro deve ter vergonha na cara; Artigo 2º – Revogam-se as disposições em contrario”.

De certa forma, a falta de cumprimento do dever, a descrença na lei, na ordem e justiça, têm muito a ver com a conduta daqueles que, na escola ou fora dela, não fizeram no passado o dever de casa – permanecendo alheios à orientação de mestres e seus familiares – e que, no presente, por suas condutas, alardeiam a improbidade, cultivam a desonra e se servem da impunidade.

 

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