No primeiro noticiário da manhã, vi aquele inferno do deslizamento de terra na BR-376, em Guaratuba, no litoral do Paraná, onde duas pessoas morreram, carros e caminhões arrastados pela lama da encosta, que, do lodo, sobressaíram os carros e caminhões.
A defesa civil tentava remover escombros em busca de sobreviventes, ainda com as nuvens carregadas. A encosta estava silenciosa, alguns que foram soterrados ouviam música do rádio, a chuva salpicava a encosta, mas este salpicar era profundo, era saturado de tragédia. Todas as pessoas têm sua história e aquela encosta soterrou e traumatizou vidas.
A torrente de água que continuava pelo lado direito da estrada lançava muita água sobre a lama do deslizamento, foi como se a vida tivesse deixado de existir ao redor. O tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dá outro aspecto.
Demais, a matéria era tão propícia ao alvoroço que facilmente traria confusão à memória dos que sobreviveram. Há, nos mais graves acontecimentos, muitos pormenores que se perdem, outros que a imaginação inventa para suprir os perdidos e nem por isso a história morre.
Como uma tartaruga assustada, os sobreviventes começaram a sair da lama parecendo um tanto ansiosos para voltar à segurança.
A história da tragédia ficará na lembranças, que brotara como árvores solitárias ao longo da vida das vítimas.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.