Descubra os mitos e as verdades sobre o ronco

Distúrbio do sono pode ser causado por obesidade, envelhecimento e outros fatores

Queixo pequeno, língua grande e pescoço curto são algumas características que podem levar uma pessoa a roncar. Esse distúrbio do sono não indica necessariamente que a pessoa enfrenta um problema de saúde. No entanto, se ficar sem tratamento ou acompanhamento médico, a pessoa corre o risco de, no futuro, desenvolver algum problema de saúde.

As pessoas roncam quando suas vias respiratórias ficam menores. Esse estreitamento da passagem do ar é explicado por diversos fatores, como obesidade, envelhecimento e flacidez dos tecidos da garganta.

Mas problemas craniofaciais também levam a esse problema, como desvio de septo (estrutura que separa as duas narinas), o tamanho e o formato da língua, a posição da mandíbula, entre outros.

Com um espaço menor para passar, o ar acaba circulando com mais dificuldade, produzindo o som que é chamado de ronco.

Apesar do espaço de passagem do ar ser menor, roncar não indica que a pessoa tem um problema de saúde. Segundo o médico Arthur Castilho, otorrinolaringologista do Hospital Bandeirantes, o ronco é um problema de aspecto mais social.

– Não tem repercussão clínica, não tem consequência para a saúde.

A pessoa só deve ficar preocupada quando o ronco vem acompanhado de fragmentação do sono e da apneia do sono, segundo a otorrinolaringologista Fernanda Martinho, do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

– O ideal é não roncar, mas só o ronco não dá repercussão clinica. A não ser que a pessoa não trate o problema e isso se transforme, ao longo dos anos, em um quadro de apneia.

Apneia do sono

A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono ocorre quando as vias respiratórias ficam completamente fechadas. Com isso, a pessoa fica sem respirar por alguns segundos.

Castilho explica que a gravidade da apneia depende do número de pausas respiratórias e do tempo de duração delas.

– Quanto maior a pausa, maiores os impactos no organismo.

Esse distúrbio faz com que a pessoa não durma bem, o que prejudica o reflexo e a capacidade de concentração, além de causar sonolência diurna. Castilho explica que, em vez de a pessoa passar a noite descansando, o organismo dela está trabalhando.

O médico Fausto Ito, especialista em distúrbios do sono, diz que a consequência disso é o aumento da produção de cortisol e adrenalina, hormônios relacionados ao estresse. Essas substâncias provocam resistência à ação da insulina no corpo e podem levar a pessoa a desenvolver o diabetes.

A pressão sanguínea também aumenta e a atividade cardíaca também. O organismo desse paciente também fica com seu sistema de defesa comprometido, diz Ito.

– Devido ao sono fragmentado, diminui a produção das células que trabalham na defesa do corpo. Isso aumenta as chances de a pessoa ter doenças, principalmente gripes e resfriados.

Tratamento

Existem diversos procedimentos que podem corrigir o ronco e a apneia do sono. Se a pessoa sofre apenas de ronco, algumas medidas de comportamento, como fazer atividades físicas, já ajuda a diminuir. Mas no caso de o distúrbio ser causa por alguma má formação facial, como desvio de septo, o paciente deverá passar por procedimento cirúrgico.

Para quem sofre de apneia, além desses procedimentos, também poderá recorrer a aparelhos que impedem o fechamento das vias respiratórias. Há aparelhos bucais, usados durante o sono, que trazem a base da língua para frente e mantêm livre a passagem de ar.

Existem ainda máscaras que o paciente usa enquanto dorme. Colocadas no nariz, elas injetam ar comprimido dentro das vias respiratórias. Mas, segundo Castilho, essas máscaras são de difícil adaptação.

Mas antes de qualquer tratamento, o paciente precisa buscar um especialista e fazer o exame de polissonografia, que vai explicar os motivos do ronco ou da apneia.

Confira abaixo os mitos e verdades sobre o ronco

1) O ronco é uma doença?

Mito. O ronco por si só não causa nenhum dano à saúde, além do barulho. Mas o ronco pode, em alguns casos, causar fragmentação do sono ou ainda vir acompanhado de apneia do sono. Nessa situação, a pessoa já está enfrentando problemas de saúde e precisa procurar um especialista.

Quando o paciente só ronca, algumas medidas comportamentais já são suficientes, como atividades físicas e perda de peso, diz Fernanda. Mas quem ronca pelo menos quatro vezes por semana precisa investigar as causas do problema.

– A pessoa com ronco pode não se tratar, mas tem que ter acompanhamento [médico] ao longo dos anos.

2) A apneia do sono é uma consequência do ronco?

Mito. A apneia não é uma consequência direta do ronco. Há pessoas que apenas roncam, outros que têm somente a apneia e há também quem sofra dos dois problemas.

No entanto, Fernanda explica que o ronco pode se transformar em apneia do sono por causa do envelhecimento da pessoa.

– O ronco é um problema evolutivo. Uma pessoa que ronca por 20 anos e não se trata pode vir a ter apneia.

3) O ronco afeta mais quem dorme de barriga para cima?

Verdade. Ao dormir de barriga para cima, a língua pode cair para trás e dificultar a passagem do ar pela faringe. Com um espaço mais reduzido, o ar passa de forma mais rápida, causando o ronco. Se a língua da pessoa for muito grande, a passagem de ar pode ser totalmente obstruída, o que causa a apneia do sono.

Especialistas alertam, no entanto, que a pessoa pode roncar em qualquer posição.

4) A forma do pescoço e da língua pode causar ronco?

Verdade. O ronco e a apneia do sono podem ser causados por diversas razões, entre eles problemas craniofaciais, como tamanho e posição da língua, formato da mandíbula, flacidez dos músculos da garganta e gordura na região do pescoço.

5) O ronco indica que a pessoa teve sono profundo?

Esse é um dos maiores mitos sobre o sono. Apesar de o ronco não ser um problema de saúde, a pessoa pode ser despertada pelo próprio ronco. Assim, a pessoa não descansa e acaba acordando com sono e indisposta.

6) O ronca afeta mais os idosos?

Verdade. Com o envelhecimento, os músculos da faringe e da laringe ficam mais flácidos, o que favorece o estreitamento da passagem de ar. É por isso que pessoas acima de 60 anos estão mais suscetíveis ao ronco e a distúrbios respiratórios.

7) O ronco afeta mais os homens obesos?

Verdade. A obesidade é um fator de risco para o ronco e a apneia do sono, principalmente entre os homens. Isso porque, enquanto as mulheres engordam mais da cintura para baixo, eles acabam ganhando mais peso da cintura para cima, em áreas como o pescoço. Com mais gordura na região cervical, diminui o espaço para a passagem de ar dentro da garganta, o que pode levar ao ronco.

8) Chacoalhar faz a pessoa parar de roncar?

Não necessariamente. Quando você chacoalha a pessoa que está roncando, ela pode até parar de roncar porque muda o padrão respiratório. Mas isso acontece só por algum tempo e a pessoa volta a roncar. Além disso, ao ser chacoalhada, a pessoa fica com o sono mais superficial, podendo até acordar, o que causa mais danos ainda.


Fonte: Diego Junqueira / R7

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