Repercussão do caso do jornalista Ricardo Boechat chama atenção para um problema tão presente na sociedade quanto as doenças crônicas, mas que ainda sofre com o preconceito e o desconhecimento
No dia 27 de agosto, o jornalista Ricardo Boechat publicou um depoimento tocante nas redes sociais sobre o surto agudo depressivo sofrido. “Quem cai num quadro desses perde qualquer condição de continuar ativo, de pensar as coisas mais simples. A pessoa morre ficando viva”, disse no seu perfil. O caso repercutiu e trouxe à tona um problema antigo, mas que ainda é coberto por muito preconceito e desconhecimento: a depressão e seus diversos graus.
Mesmo sem querer estabelecer uma relação maior com o problema e tendo voltado a trabalhar normalmente, Boechat afirmou numa conversa rápida com a reportagem do CORREIO que está 85% melhor do que já esteve e reconhece que o surto agudo não é nada em comparação ao sofrimento de quem apresenta os quadros mais graves do problema.
Par se ter uma ideia do que a depressão representa, basta lembrar que a Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrou que 14,6% dos moradores de países de alta renda já tiveram Episódio de Depressão Maior (MDE).
Nos países de baixa ou média renda, 11,1% da população teve episódio da doença alguma vez na vida. A depressão já encosta nas estatísticas de problemas crônicos como as doenças cardiovasculares e cânceres. No mesmo estudo, o Brasil aparece com uma prevalência alta entre os pesquisados, revelando índices em torno de 10,4% da doença.
Doença
De acordo com o psiquiatra André Gordilho, da Clínica Holiste, a depressão pode ser leve, moderada ou grave, também conhecida como Depressão Maior, que é um dos transtornos do humor. “A doença depressão é igual a qualquer outra e precisa de medicação para tratar. Ela é diferente da depressão como episódios, que pode ser sintoma de outras doenças, como o transtorno bipolar ou até mesmo do hipotireoidismo”, esclarece o médico.
Com uma postura parecida, o psicólogo Cláudio Melo destaca que a depressão é uma doença subnotificada, pois a pessoa doente costuma ficar isolada, sem buscar ajuda, sem chamar atenção ou procurar ajuda. “Muita gente morre por depressão, seja por ficar com o sistema imune completamente fragilizado seja por recorrer ao suicídio”, completa o psicólogo.
Cláudio Melo ressalta que a depressão maior está vinculada com uma predisposição genética, a exemplo de outras doenças crônicas como o diabetes ou a hipertensão, e que surge independentemente do tipo de vida que a pessoa tenha. “Já a tristeza do dia a dia, que vira patológica em virtude da sociedade estar mais depressiva, se manifesta por uma razão, geralmente, uma perda material, afetiva ou ideal”, explica o psicólogo.
A pessoa com depressão sofre com uma perda drástica de motivação, energia e vitalidade; apresenta pensamentos negativos constantemente, o futuro desenhado é sempre o pior possível; há uma indisposição para tudo e pode chegar a apresentar delírios de ruína, perde o apetite, peso e apresenta problemas de libido. “A depressão, no entanto, em qualquer grau, tem cura e tratamento, mas para que isso ocorra, é preciso que haja um diagnóstico correto e criterioso”, diz Gordilho.
Os tratamentos podem ser farmacoterápicos(com medicação) e ou psicoterápicos. “Nos casos mais graves ou quando tratamos mulheres grávidas, pessoas com problemas do coração ou idosos, usamos também a eletroconvulsoterapia que, ao contrário do que muitos pensam, é segura, indolor e muito eficiente”, diz o médico.
Confirmando a postura do colega, Cláudio Melo ressalta que o eletrochoque é objeto de muito preconceito por ser, equivocadamente, associado à tortura, mas que ele é fundamental para tratar pacientes que não respondem à medicação. “É preciso vencer esse preconceito”, finaliza.
Acompanhante terapêutico auxilia na retomada da autonomia
Para promover a autonomia, a reorganização subjetiva e a reinserção social do paciente com depressão, a Clínica Holiste disponibiliza o serviço de Acompanhante Terapêutico. O acompanhamento é feito por um profissional especializado da equipe, que visita a casa do paciente, orienta a organização de suas atividades cotidianas, supervisiona sua adesão ao tratamento e o cumprimento das orientações médicas, além de acompanhá-lo nas atividades sociais e de lazer, auxiliando sua reinserção sociofamiliar. O trabalho possibilita também que, aos poucos, esse paciente volte a viver sem a necessidade de suporte. Informações no 3082 – 3611 ou www.holiste.com.
Carmen Vasconcelos/Correio