A chuva caiu numa cortina grossa, limitando a visibilidade a um raio de poucos metros, os únicos barulhos foram o zumbido dos mosquitos, o estalar da chuva batendo no asfalto e os locais de armazenamento de água ficando cheios e propensos a receber óvulos dos mosquito-da-dengue.
O mosquito transmissor da dengue é originário do Egito, na África, e vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta desde o século 16, período das Grandes Navegações. Admite-se que o vetor foi introduzido no Novo Mundo, no período colonial, por meio de navios que traficavam escravos.
No início do século XX, o mosquito já era um problema, mas não por conta da dengue – na época, a principal preocupação era a transmissão da febre-amarela. Em 1955, o Brasil erradicou o Aedes aegypti como resultado de medidas para controle da febre-amarela. No final da década de 1960, o relaxamento das medidas adotadas levou à reintrodução do vetor em território nacional. Hoje, o mosquito é encontrado em todos os Estados brasileiros.
Em “Doutor Fausto”, Tomás Mann escreveu sobre um compositor que inventou um novo tipo da música capaz de alterar o pensamento das pessoas. Mas Mann não descreveu em que consistia aquela música, fazendo com que nós apenas imaginássemos o seu som. Talvez seja precisamente uma educação da população oferecer um exemplo por inteligência artificial das dores e sofrimentos da dengue para poder ser imaginado. E ser imaginado é a primeira etapa da compreensão.