Das trevas para a luz

“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pedro 2.9)

Que mudança radical nos foi concedida por Deus, pela obra redentora de Cristo. Poderíamos dizer: da água para o vinho! Mas, sem dúvida, das trevas para a luz fica bem mais forte! O que significa exatamente isso? Fomos “chamados” das trevas para a maravilhosa luz de Deus. O significado desse chamado não é exatamente o de Deus nos convidando, de modo que a saída das trevas e a entrada na luz seria algo realizado por nós, claro, autorizados pelo convite de Deus. Não! Esse chamado tem a ideia de uma ordem que faz acontecer. Somos soberanamente trazidos da morte espiritual para a vida! Paulo usa uma expressão que esclarece isso. Ele escreveu na Carta aos Romanos: “o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem, como se existissem” (Rm 4.17). Essa é a ideia.

Isso se confirma em outros textos de Paulo, que vale lembrar: Cl 1.13-14: “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.”; Ef 1.3: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo.” Paulo fala de algo feito por Deus, soberanamente. Em Efésios 2 Paulo cita as ações de Deus nos dando vida, estando nós mortos, e nos fazendo participantes do Reino Celestial, no qual entramos sem saber nos comportar, ainda dominados pelas ideias do reino terreno. Pois é de dentro do Reino de Deus que se aprende a viver como filho de Deus. As vezes agimos como se a ordem fosse ao contrário: primeiro agir como filho de Deus para depois ter direito ao Reino. Esquecemos as lições da Parábola do Filho Pródigo. É o amor incondicional de Deus que nos aperfeiçoa e não o nosso aperfeiçoamento que nos faz amados por Deus. É o amor incondicional de Deus que nos fortalece para dizermos “não” ao pecado, e não o contrário! Mas isso se choca com a lógica de nossa religiosidade. Esse é um dos nossos problemas. Mas há outros.

Temos dificuldades com largueza e generosidade da graça. Pensamos que isso a faz barata e tentamos garantir que seja cara. Que tolice! Confundimos as virtudes do Reino com as qualidades da religião. Atitudes que alimentam uma espiritualidade orgulhosa e intolerante. Arriscamos pouco na obediência, temendo abrir mão de nossa vontade pela de Deus, por confiarmos pouco em seu amor. Somos melhores em nos emocionar do quem em obedecer. Uma devoção marcada pelo medo, pelo esforço para evitar o castigo, parece ser o padrão. Quando deveria ser aquela marcada pelo amor e a liberdade. Lutamos para sermos bons de um jeito que nos tornamos legalistas e, muitas vezes, hipócritas. Aprendemos que há exceções não cobertas pelo amor de Deus, crendo mais na gravidade do pecado do que no poder e na grandeza do amor e graça de Deus. E assim, e com muitas bases bíblicas, claro, nos desviamos do caminho da graça que gera filhos e servos. Gente que pertence e descansa e que se esforça e obedece. Por isso nossa proclamação das grandezas de Deus tem sido pobre. E só será diferente quando aceitarmos sem reservas o escândalo do Evangelho, que anuncia o Deus que ama e salva pecadores. Inclusive os inaceitáveis aos nossos olhos. Pois o Reino de Deus, é de Deus, e não nosso!

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