Aulas são gratuitas e deixam crianças calmas; pais resistem à educação com jeito “hippie”
Ouvir crianças cantando “eu sou amor, eu sou o sol, eu sou a flor”, enquanto fazem posições de yoga, não é o que se espera ao entrar em uma sala de aula. Pois essa é a rotina de quatro creches públicas de São Paulo, duas situadas na zona norte e duas na zona oeste da cidade.
No Jardim Pery Alto, faz anos que alunos de três e quatro anos meditam, cantam mantras e fazem yoga, no Lar Ananda Marga. A direção da creche chama o modelo de educação de neohumanista.
Cerca de 500 crianças são atendidas nas quatro creches. A última das instituições a ser construída está situada no bairro do Jardim Guarani, na zona norte de São Paulo, e tem como diferencial ser uma escolinha sustentável. Ela foi inaugurada no início deste ano.
Massagem
As crianças menores recebem nas creches a Shantala – uma massagem milenar surgida no sul da Índia, possivelmente em Kerala, e divulgada por um médico francês. A técnica, segundo especialistas, pode ser usada em bebês a partir de um mês de idade.
Os alunos mais velhos – a partir dos dois anos – praticam yoga duas vezes por semana nas creches, que funcionam em tempo integral. As crianças chegam às 7h e só saem depois das 16h30.
Outras atividades também são orientadas para que as crianças conheçam melhor a si mesmas e as outras, e também respeitem o meio ambiente. O modelo de educação das creches, o neohumanismo, se propõe a desenvolver as habilidades dos estudantes em harmonia com o mundo.
Aulas de expressão corporal, mantras, músicas indianas e historinhas que ensinam valores como ecologia estão dentro do programa com jeito “hippie” das creches.
As escolas são administradas por uma ONG (Organização Não-Governamental), a Amurt Amurtel. Fundada por um professor indiano de meditação e yoga, de nome Prabhat Ranjan Sarkar, a ONG começou como duas instituições separadas, nas décadas de 1960 e 1970, que foram unificadas.
Coordenadora filipina
A coordenadora das creches é a filipina Didi Jaya, voluntária que chegou ao Brasil em 1993, depois de quase 20 anos atuando como educadora na Europa. Ela explica como a yoga ajuda no desenvolvimento dos alunos.
– A yoga têm que ser adaptada para eles [as crianças], então eles cantam músicas com afirmações positivas e reproduzem como podem as posições. Dessa forma eles ficam mais confiantes, pois aprendem a amar a si mesmos e tem noção do próprio corpo. Essa experiência já começa quando eles recebem a shantala.
Alimentação vegetariana
As creches não recebem merenda com carne da prefeitura – a comida é vegetariana. O cardápio inclui feijão com ricota e carne de soja.
Para preparar a alimentação, a ONG contratou uma nutricionista que adapta o cardápio dado pelo poder público a princípios mais naturais. O novo menu é enviado para a Prefeitura de São Paulo junto com um laudo médico.
O documento comprova que a comida não é nociva para crianças de um a três anos. A coordenadora Didi diz que os alimentos sem carne influenciam para melhor o comportamento das crianças.
– A carne em excesso irrita o estômago. Como consequência, as crianças ficam nervosas. Aqui também usamos pouco açúcar, pois deixa as crianças ansiosas e pouco concentradas.
Desafios
A diretora da unidade do Pery Alto, Janice Teresinha Pizarro, afirma que o jeito “hippie” da creche causa estranhamento entre os pais.
– Ás vezes é difícil convencer alguns deles, principalmente os mais religiosos, de que as práticas daqui não dependem de crença. Tudo que fazemos só ajuda os filhos.
Janice garante que a maioria das avaliações dos pais é positiva. Que o diga Juvenal Batista de Matos, pai da menina Agatha, de um ano e meio. Desde que entrou na creche no Jardim Guarani, Agatha está mais sociável e calma, afirma o pai.
– Senti muita melhora. Ela está mais calma, mais inteligente. Antes, ela quase não falava ou interagia com as pessoas. Agora está bem arteira.
Fonte: Luísa Ferreira / R7