A maioria está ali por uma dor de haver perdido algo na vida. Após perder quatro filhos e a mulher num acidente ele se deu conta de que não conseguia falar muito sobre perdas e se perdeu no mundo sem uma referência indo parar na Cracolândia, tudo no mundo para ele parecia superficial e tolo. O que havia aprendido sobre Deus perdeu também o sentido, sua fé foi abalada. Era como se um quarto aquecido tivesse esfriado de repente, embora ainda fosse o mesmo quarto.
Os espíritos, nascem condores ou andorinhas, ou ainda outras espécies intermédias. A uns é necessário o horizonte vasto, a elevada montanha, de cujo cimo batem as asas e sobem a encarar o sol; outros contentam se com algumas longas braças de espaço e um telhado em que vão esconder o ninho. Estes eram os obscuros, e inclinados a desconexão do mundo.
Quando a morte os colhe, vão eles pousar no regaço comum da eternidade, onde dormem o mesmo perpétuo sono, tanto o capitão que subiu ao sumo estado por uma escada de mortes, como o zelador que o viu passar uma vez e o esqueceu duas horas depois. Suas ambições não eram tão ínfimas como seriam as do zelador; eram as do proprietário do campo que o capitão atravessasse.
Estão ali porque interiorizaram a dor, encontrando consolo nas drogas, ou caindo numa depressão profunda, existindo silêncios intermináveis, só interrompido na busca de mais droga. Ficam ali como quem espera que acabe a corda de um relógio. Talvez muitos não esperassem perder o chão nem afundar tão rápido.