(C)Oração

“Senhor, não me castigues na tua ira nem me disciplines no teu furor. Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo! Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem: todo o meu ser estremece. Até quando, Senhor, até quando?” (Salmos 6.1-3)

É notável que no livro dos salmos, um livro de cânticos para ser usado na adoração, seja tão cheio de lamentos e desabafos, confissões e temores. É notável para nós, em nossa cultura ocidental, que frequentemente ocupa-se mais das impressões que causa do que da expressão do ser. Mas certamente não para os judeus, cuja relação com a vida é visceral, sentimental. E assim nos deparamos com o salmista expressando seu medo de que Deus o castigue, revelando sua sensação de esgotamento. E de onde está, ele implora, pede, suplica: cura-me, Senhor! Para ele “já deu”, basta. E então pergunta: até quando Senhor, até quando? Uma pergunta constrangedora que revela seu sentimento de que Deus está atrasado.

Em nossa devoção precisamos ser mais sinceros, mais verdadeiros. Temos a mesma carência de autenticidade em nossa adoração coletiva, quase sempre centrada em triunfalismo, em declarações de amor e apego a Deus que, sinceramente, não se confirmam no dia-dia. Quem jamais sentiu medo da presença de Deus, quem jamais considerou que talvez Deus esteja para lhe impor um grave castigo, é porque tem pensado pouco em sua própria miséria, tem explicações demais para seus próprios pecados. Somente pode regozijar-se na misericórdia de Deus quem, pelo menos por um pouco, estremece diante da condenação que merece.

Nossas conversas com Deus precisam ser pessoais e nossos assuntos, verdadeiros. Somos pecadores e vivermos num mundo caído, que de acordo com Paulo vai de mal a pior (2Tm 3). Se em nossas orações não falamos de dúvidas, medos, perplexidade e jamais fazemos perguntas constrangedoras para Deus, precisamos avaliar se não estamos sendo dissimulados. Nossa sociedade dificulta a sinceridade, mas nosso Deus abre todo espaço necessário para que a pratiquemos. Orar é ser completamente sincero com Deus. Quando oramos assim, a própria oração torna-se uma resposta antecipada do que buscamos, pois experimentamos mais de nós e mais de Deus.

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui