Munidos de papel e caneta, os candidatos reclamaram do pouco tempo para fazer a prova – quatro horas – e da exigência
“Quem leu o livro A Arte da Guerra sabe que é melhor derrotar os fracos primeiro”. A declaração é do gerente comercial Patric Lopes, 26 anos. Para ele, que já tirou nota 10 na redação de dois concursos, o fraco é a questão de múltipla-escolha.
Já o oponente mais difícil — que ele domina com maestria, mas que é temido pela maioria dos candidatos, Patric prefere deixar para enfrentar no fim da batalha. “Separo, no final da prova, no mínimo uma hora para escrever a redação”, afirmou ele que, com a estratégia, tirou nota 10 nas redações de um concurso do Banco do Brasil, em 2008, e outro da Caixa Econômica, no ano passado. Resultado: 3ª lugar no primeiro e 5º no segundo.
No último concurso do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-Bahia), 61 candidatos dos 2.591 inscritos perderam as nove vagas de juiz com salário
inicial de R$ 14 mil porque não conseguiram boa nota na hora de redigir uma sentença. Munidos de papel e caneta, os candidatos reclamaram do pouco tempo para fazer a prova – quatro horas – e da exigência.
Patric quer fazer este mesmo concurso daqui a três anos. Ele trabalha seis horas por dia, cursa o último ano do curso de Direito, à noite, e ainda acha tempo para estudar para o concurso durante cerca de oito horas, todos os dias.
Para a professora de Português Paula Barbosa, o tempo é um fator que precisa ser observado muito antes de o aluno entrar na sala de prova. “É uma questão de treinamento. Se eu foco em um concurso, a primeira coisa que devo fazer é observar o tempo. Ele é o mesmo para todo mundo, é uma competição”, disse a professora. Aluno nota 10, Patric concorda: “Sempre faço meus treinos de redação de olho no cronômetro”, revelou.
A mestre em Linguística Aplicada Maria Laura Petitinga acha que, normalmente, falta aos candidatos planejamento na hora de redigir as redações. “O primeiro passo é ler acionando conhecimentos já construídos, procurando compreender o solicitado. O segundo, formular uma opinião. Só depois de fazer isso tudo, é que é hora de redigir”, explicou a professora.
Outro ponto importante é a revisão: “Ninguém revisa o que lê e, no entanto, se lesse novamente, mudaria muita coisa”, pontuou. “É preciso se distanciar do texto, ler procurando as lacunas e fragilidades e corrigi-las”, explicou a professora.
Lápis e papel
Patric disse que, hoje em dia, não passa aperto com nenhum tipo de texto. E ainda apontou um diferencial importante: “Estudo sempre com lápis e papel. Na hora do concurso não dá para usar computador”, explicou. A professora Paula Barbosa concorda: “Sempre aconselho meus alunos a escreverem mais à mão, mas na sala de aula há cada vez mais alunos que levam o notebook.
Você deixa de treinar a grafia, a organização de parágrafos, a coesão”, exemplificou.
Ela lembrou que o hábito de escrever e-mails e textos curtos no computador
interfere na forma de estruturar o texto. “No e-mail tudo é topicalizado e feito como em um fichamento. É preciso treinar a coesão do texto”, disse Paula.
DICAS DE QUEM TIROU NOTA 10
Leitura
É importante ler de tudo, tanto sobre assuntos da área, quanto sobre conhecimentos gerais.
Prática
Treinar de forma exaustiva, redigindo à mão pelo menos três redações por semana, ajuda a se reacostumar com o ritmo da escrita e administrar o tempo.
Tempo
É preciso saber usar o tempo, que é contabilizado no concurso. Usar um cronômetro durante os simulados ajuda.
Tema
É fundamental ficar atento ao tema proposto no concurso e não fugir dele, evitando divagações e devaneios.
Fonte: Joana Rizério/Correio