A Polícia Militar ainda não sabe o que motivou o “surto psicótico” do soldado Weslei Soares, que bloqueou por quatro horas a frente do Farol da Barra e acabou sendo alvejado e morto por policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (29), o comandante da PM, coronel Paulo Coutinho, afirmou que não há conhecimento de nenhuma situação que pudesse ter motivado a situação no Farol da Barra.
“Estamos todos surpresos e atônitos com o que aconteceu”, disse o comandante.
O coronel disse ainda que está em contato com a família do policial desde o início das negociações e que os familiares chegaram a vir para Salvador, mas que não houve tempo para que eles chegassem até o Farol da Barra. “Reforço nosso cumprimento institucional à família. Estamos desde o primeiro momento em contato permanente e dando suporte total”, afirmou.
Durante a coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira, 29, o comandante rebateu as críticas recebidas por diversos políticos e setores de que a operação teria sido conduzida de forma “desproporcional” e afirmou que os policiais envolvidos só efetuaram os disparos quando tiveram suas vidas postas em risco pela ação do soldado Wesley.
“Enquanto os disparos não estavam oferecendo riscos para a tropa e para as pessoas que circulavam, protegemos a integridade do soldado. Sempre temos esse cuidado, temos expertise de atender ocorrência dessa natureza. Foram utilizadas outras alternativas porém ele estava com uma arma de grande poder de letalidade e em determinado momento todos os recursos de isolamento e proteção foram esgotados”, avaliou.
De acordo com o comandante, um inquérito policial será instaurado nas próximas semanas para averiguar o desenrolar dos fatos durante a ação e os procedimentos adotados pela corporação na contenção do PM.
“Ocorrências críticas possuem muitas motivações e só podem ser esclarecidas após a abertura do processo investigativo. Mas ali foi um típico caso de um individuo que estava passando por um transtorno mental e estava desconectado da realidade. As imagens falam por si só”, disse.
Ainda de acordo com o comandante, apesar da grande movimentação de entidades ligadas ao corpo policial, não existe qualquer possibilidade de que a categoria se mobilize para uma paralisação geral.
“Temos que deixar bem claro que a PM é bem maior do que isso. Estamos com o alto comando da corporação em funcionamento para servir e proteger o cidadão. Qualquer manifestação de ordem política não cabe nesse momento”.
Weslei estava há 13 anos na corporação e nunca tinha acionado os serviços de psicologia da corporação, segundo o comandante.
Palavras desconexas
O comandante do Bope, major Cledson Conceição, afirmou que Weslei falava palavras desconexas durante todo o tempo. “Lamentamos imensamente o fato, usamos de todas as técnicas para resoler da melhor forma. Nós não conseguimos trazê-lo à realidade, o policial estava fora de si. A todo momento tentamos esse contato com o soldado Weslei, mas não tivemos sucesso”, explicou.
Ele disse ainda que a última tentativa aconteceu antes de o soldado disparar contra os policiais. O major garantiu que todos os procedimentos foram usados antes que o policial fosse alvejado.
Morte confirmada
O policial militar Weslei Soares, que bloqueou a frente do Farol da Barra e efetuou disparos para a cima, na tarde deste domingo (28), teve a morte confirmada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA). Ele estava internado no Hospital Geral do Estado (HGE) após ser baleado por policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) no início da noite. A morte foi confirmada às 22h41.
O PM foi atingido em pelo menos três regiões do corpo, incluído tórax e abdômen. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), às 18h35, o soldado afirmou que “havia chegado o momento, fez uma contagem regressiva e iniciou disparos contra as equipes do Bope”. Os policiais, então, dispararam dez vezes contra Weslei. “No momento que caiu ao chão ele iniciou uma série de disparos contra os policiais, que novamente tiveram a necessidade de realizar disparos, e, quando ele cessou a agressão, os policiais chegaram perto para utilizar o resgate”, declarou Capitão Luiz Henrique, o negociador.
O comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), major Clédson Conceição, afirmou que os policiais buscaram utilizar técnicas de negociação e impedir um confronto, mas que Weslei “atacou as equipes”. “Além de colocar em risco os militares, estávamos em uma área residencial, expondo também os moradores”, justificou. Conceição disse que tentaram fazer com que Weslei se estregasse, mas que “essa negociação alternava em picos de lucidez com loucura. Ele não falava coisas com sentido, estava bastante transtornado”.
Após o PM ser baleado, jornalistas foram alvos de tiros de borracha após tentativas dos policiais de afastarem os profissionais da imprensa do local.
Em nota, o Sinjorba afirmou que “condena veementemente o comportamento dos policiais envolvidos neste lamentável episódio”. A instituição também contou que “não havia qualquer necessidade de agir daquela maneira pois os jornalistas estavam trabalhando e não representavam qualquer ameaça aos PMs ou à operação”.
Nota da PMBA
“A Polícia Militar lamenta profundamente o episódio que ocorreu neste domingo (28), no Farol da Barra, quando todos os esforços foram feitos por um final pacífico durante um possível surto de um PM. O Batalhão de Operações Policiais Especiais adotou protocolos de segurança e o policial militar ferido foi socorrido imediatamente pelo SAMU. A corporação tomou conhecimento ainda de um vídeo do momento em que a imprensa acompanha o fato e é interpelada por um policial militar. A instituição ressalta o respeito à liberdade de expressão e ao trabalho dos jornalistas. O fato será devidamente apurado”.
Repercussão
A morte do soldado Wesley Soares, na noite deste domingo, 28, causou reação de lideranças de entidades que representam os policiais militares. Logo após a confirmação do falecimento do colega de farda, um grupo de PMs – ligados à Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra-BA) – que se concentrou em frente ao Hospital Geral do Estado (HGE), convocou uma assembleia para esta segunda-feira, 29, no Farol da Barra, local onde o militar foi baleado após ter um surto psicótico.
Compilação: A Tarde e Correio