Com greve no INSS, segurados da BA relatam impacto da paralisação

Servidores do órgão estão em greve há quase dois meses.

Médicos peritos aderiram à mobilização nesta sexta-feira.

Com a greve dos servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na Bahia, que já dura quase dois meses, as pessoas que dependem dos serviços oferecidos pelo órgão relatam o impacto da paralisação em suas vidas. Nesta sexta-feira (4), os médicos peritos do INSS também pararam de trabalhar.

Uma das seguradas que está sendo impactada com a greve do INSS é a aposentada Itana Vieira Lima. Ela está com o benefício atrasado desde quando começou a greve.

Itana trabalhava em uma empresa química e petroquímica brasileira e se aposentou por conta de problemas de saúde há quatro anos. Anualmente ela precisa passar por perícia para continuar recebendo o benefício.

“Eu faço a perícia porque é uma forma de provar que estou viva, que não morri e alguém recebe o benefício por mim. Eu fui lá na agência do INSS no dia que deflagraram a greve e desde então não consegui mais fazer a perícia. Até consegui marcar por uma central de atendimento do INSS, mas quando chego lá não tem ninguém para atender. A informação passada para nós é que assim que o atendimento voltar, receberemos a quantia do benefício retroativo. Já o 13° vamos receber de qualquer forma, com ou sem perícia, segundo o INSS informou”, disse Itana.

Ainda segundo a aposentada, ela não teve problemas financeiros pela situação porque recebe outra pensão, mas teve que fazer mudanças nos gastos.

“Fico pensando nas pessoas que só recebem esse dinheiro e dependem dele. Eu sou atingida, mas não fico sem renda. Estou apenas cortando gastos, mas não totalmente no prejuízo porque tenho outra pensão. No passado, meu pai me incluiu em uma pensão vitalícia, que não tem qualquer relação com o INSS, e eu recebo o dinheiro. Isso que está me deixando tranquila, mas ainda assim, tive que administrar melhor o dinheiro, principalmente por conta dos gastos com comida e remédios”, relatou.

Já a vendedora Débora Carla Genê de Aguiar Lima não consegue passar por perícia há pouco mais de um mês. Ela sofreu um acidente no trabalho em março e fraturou a mão. Com isso, Débora ficou afastada por 60 dias.

“No dia de voltar para o trabalho, o médico me deu um atestado e pediu que eu passasse por nova perícia, porque não tinha condições de voltar ao trabalho. Eu remarquei a perícia para o dia 8 de julho e quando cheguei lá, ninguém estava atendendo. Eles [os servidores] já estavam em greve. Até o mês de agosto eu recebi o benefício normalmente, mas agora em setembro eu não sei como vai ser, porque a data de crédito na minha conta ainda é dia 5 [de setembro]. Eu consegui remarcar a perícia para o dia 21 de setembro, mas se a greve não acabar, vou ter que marcar mais uma vez”, relatou.

Médicos Peritos

De acordo com o diretor sindical da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Luiz Carlos de Deive de Argolo, a greve dos médicos do INSS, que começa nesta sexta-feira (4), foi decidida em assembleia realizada no dia 29 de agosto. A paralisação dos profissionais é por tempo indeterminado. Cerca de 600 perícias por dia são realizadas na capital baiana, cerca de 120 mil por ano.

“Estamos solicitando basicamente três itens: a reestruturação da carreira, que vai desde a jornada de trabalho, bonificações e recomposição salarial, reposição do quadro de funcionários, pois o governo está querendo terceirizar o serviço; além de adequação de condições de trabalho, desde item de segurança, campanha de marketing do médico perito, pois a população não tem conhecimento do nosso trabalho; adequação das leis e normas das rotinas administrativas e mudanças nos sistemas do INSS que são inadequados”, relatou à reportagem.

Ainda segundo o diretor sindical, a categoria está negociando com o governo desde maio de 2015. “O governo ofereceu de forma linerar para todos os sevidores públicos 21,3% dividido por quatro anos. Não nos contempla. Esse percentual de composição é menor do que o por nós solicitados, já que este ano a inflação deve chegar a 10%. Pedimos 27% parcelados em duas vezes anuais”, disse Argolo.

Segundo Argolo, a categoria vai garantir que parte do efetivo dos médicos peritos permaneçam em atividade durante a greve. Ainda segundo Argolo, o trabalho não será suspenso totalmente. Na manhã desta sexta-feira, os médicos peritos se reúnem na gerência de Salvador, no bairro do Comércio, para receber as orientações do comando de greve.

Campanha

A greve dos servidores começou no dia 7 de julho na Bahia. De acordo com estimativa do Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social do Estado da Bahia (Sindprev-BA), 92% dos servidores aderiram ao movimento.

Das 133 agências no estado, cerca de 70 estão fechadas, segundo o sindicato. E a greve continuará por tempo indeterminado caso não haja negociação concreta com o governo. Todas as sete gerências do estado, localizadas em Salvador, Vitória da Conquista, Barreiras, Juazeiro, Feira de Santana, Santo Antônio de Jesus e Itabuna, estão paradas.

Os servidores da previdência pedem o mesmo reajuste salarial de 27,3%, reivindicado pela categoria que integram, de servidores públicos federais. Ainda segundo o Sindprev-BA, também são pleiteadas melhores condições de trabalho para os servidores, como a mudança no sistema nacional que determina tempo limite para atendimento.

O Sindprev-BA afirma ainda que a categoria pede que o servidor, antes de ser punido por algum benefício concedido erroneamente, seja investigado por meio de abertura de um processo administrativo. Segundo o sindicato, atualmente os profissionais do INSS são penalizados sem qualquer investigação por parte do órgão.

O sindicato informou que o Governo Federal se comprometeu a reverter as duas medidas, e chegou a formalizar a promessa com a categoria, contudo ainda não houve acordo com relação ao reajuste salarial.

Sobre a negociação, a assessoria de comunicação do INSS informou à reportagem, no dia 4 de agosto, que não se pronuncia sobre o processo de negociação com as entidades de classe, que é conduzido pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG).

O INSS também afirmou ter empreendido esforços para orientar as unidades e a Central de Teleatendimento 135, para reagendamento de serviços dos segurados que não são atendidos devido ao movimento de paralisação. O reagendamento pode ser realizado pelo telefone, com exceção de alguns casos, que devem aguardar o fim da greve.

 

 

 

 

Maiana Belo/G1

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