Estrutura estaria localizada na parede ‘da frente’ da vagina. Ginecologistas dizem que orgasmo feminino não se restringe a um ponto.
Um pesquisador americano afirma não apenas ter encontrado o mítico “ponto G” na região genital feminina, mas também ter feito o mapa anatômico da zona erógena que promete orgasmos mais intensos. O médico ginecologista Adam Ostrzenski, do Instituto de Ginecologia da cidade de São Petesburgo, na Flórida, publicou a descoberta nesta quarta-feira (25) na revista médica “The Journal of Sexual Medicine” (Revista da Medicina Sexual, em português), contrariando pesquisas anteriores que diziam que o ponto G não existia.
O achado ocorreu após análise de um cadáver de uma mulher de 83 anos, 24 horas depois de sua morte em decorrência de um traumatismo craniano.
Segundo a pesquisa, o ponto G é uma estrutura bem delineada localizada na parede “da frente” da vagina. No organismo, ela fica comprimida em uma espécie de casulo de cerca de 3,3 mm. Após ser retirada do “casulo”, no entanto, a estrutura se estendeu para 8,1 mm de comprimento, por 3,6 mm de largura e 0,4 mm de altura.
O conceito do ponto G foi proposto pela primeira vez em 1950 pelo cientista alemão Ernst Gräfenberg, que estudava o “papel da uretra” no orgasmo feminino. Embora sua proposta tenha sido invalidada por outros pesquisadores, a ideia de um local capaz de proporcionar orgasmos mais intensos permaneceu. Em 1981, um estudo sobre uma suposta região na vagina com o mesmo papel foi batizada de “zona de Gräfenberg”. Não demorou e o local foi apelidado de “ponto G”.
Ao G1, Adam Ostrzenski conta que encontrou na mesma área um tecido azulado e fibroso. “É o único tecido que apresenta essa cor. Não há outra estrutura similar ao ponto G na vagina”, disse ele.
“Nunca se tinha ido tão profundamente dentro da vagina como essa pesquisa. Essa estrutura mostrou ter potencial de se esticar, de ficar maior, quando estimulada”, reitera.
O ginecologista reconhece que a descoberta pode levantar polêmica. “Sei que é um assunto controverso, mas acredito que a estrutura anatômica do ponto G existe. E um corpo foi o suficiente para me dizer isso. O ponto G pode ser diferente em outra mulher, como a minha cor dos olhos é diferente da sua e por isso temos que estudar a anatomia”, disse Ostrzenski.
O cientista espera que a “comprovação” da existência do ponto G possa causar impacto nas pesquisas clínicas sobre o tema e na abordagem da função sexual feminina.
Ressalvas
A ginecologista Albertina Duarte, coordenadora do programa de saúde do governo do estado de São Paulo, vê a descoberta com ressalvas. “Todas as pesquisas que favorecem a mulher são bem vindas. Mas é preciso entender que não podemos reduzir a mulher a um pedaço, ela é um todo. É preciso que seja bem discutido esse estudo para não achar que isso é um piercing, que se a mulher não tiver não será feliz”, afirma Duarte.
Segundo a médica, já é comprovado que a parte da entrada da vagina responde bem a estímulos, mas o possível ponto G não pode ser o único agregado ao orgasmo da mulher.
“Ele pode ser um ponto erótico sim, mas as mulheres têm mais pontos eróticos nos mamilos, nas coxas, no pescoço e no clitóris. O ponto G é o afeto, quando ela se sente desejada”, diz a médica.
De acordo com o ginecologista Gerson Lopes, presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o que já é consenso médico é que a única parte sensível da vagina é o músculo localizado logo na entrada do genital, que pode ficar erétil quando a mulher fica excitada ou a partir da entrada do pênis.
“Nunca definiram uma região [para o ponto G] anatomicamente e histologicamente na vagina. (…) É muito mais fácil imaginar que seja o corpo clitoridiano abordado do que um ponto especial”, afirma Lopes.
Fonte: Camila Neumam\G1