Cidade feia

 

Nós que fazemos perícias conhecemos uma Salvador que a maioria não conhece, entrar nos bairros de Capelinha de São Caetano, da Paz , Itinga, Santa Cruz, entre outros, é uma rotina na nossa atividade, passamos por dezenas de casas comerciais e também residências, onde há gente pobre na porta dos bares, mulheres feias espiando das janelas, oh! Senhor, o quanto é triste esses trechos urbanos, o quanto é urbano!

Existem vielas escuras e sujas, mais adiante uma porta de quinquilharia de matéria plástica, uma melancólica loja de sapatos. Nessas ruas e em outras haverá casas boas, pequenas indústrias respeitáveis, mas o que enxameia é a tristeza desses pequenos negócios de mercadorias pífias, essas tristes oficinas sem luz, nem fé, nem esperança.

Aquela mulher que vende coisas de adornos caseiros, uma infinidade de bugigangas de um mau gosto lancinante. Essa humanidade é em demasia feia, e mesmo os jovens têm um certo ar cansado.

Há apenas pobreza, mas o que essa pobreza tem de terrível é sua afetação medíocre, a mesquinhez de seu território de asfalto. Não há árvores, nem céu, nem campo, nem mar, nem rio, nem nenhum horizonte azul ou verde, e, entretanto, aqui, entre as lojas, atrás das lojas, mora gente – vive, come, cresce, ama . Esta é a maldição da cidade, e ainda nas mais belas cidades há estas zonas sem horizonte e sem história, de pequenas espertezas e mediocres ambições, tédio e limitação.

João Misael Tavares Lantyer

*Este artigo emite, exclusivamente, a opinião do autor

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