Cegueira afeta 39 milhões de pessoas no mundo

Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) é uma das três principais causas de cegueira no mundo e no Brasil — Foto: Carlos Trinca/EPTV
Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) é uma das três principais causas de cegueira no mundo e no Brasil — Foto: Carlos Trinca/EPTV

Atualmente, estima-se que a cegueira afete 39 milhões de pessoas em todo o mundo e que 246 milhões sofram de perda moderada ou severa da visão. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e constam no recente documento “As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2019”, elaborado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

Por aqui, segundo José Augusto Ottaiano, presidente do CBO, os indicadores não são muito precisos. “Como há escassez de informações populacionais em várias regiões, não temos como determinar com segurança a prevalência no país”, afirma.

Apesar disso, o cálculo da entidade, baseado em índices do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de que 1.577.016 de indivíduos sejam cegos, o equivalente a 0,75% da população nacional.

A primeira estimativa global sobre as perdas de visão foi realizada pela OMS em 1972, indicando, naquela época, a existência de 10 a 15 milhões de cegos no planeta e 159,9 milhões com deficiência visual moderada ou severa.

Em 1990, esses números já eram de 38 milhões e 216,6 milhões, respectivamente, aumento que, de acordo com o CBO, é atribuído a três fatores principais: crescimento populacional, envelhecimento e redução da prevalência específica da idade.

Deficiência visual e cegueira

A Classificação Internacional de Doenças – versão 10 (CID 10) – estabelece quatro níveis de função visual: visão normal, deficiência visual moderada, deficiência visual grave e cegueira.

Como explica Ottaiano, essa classificação estabelece duas escalas oftalmológicas como parâmetros para avaliar problemas na visão, a acuidade visual (capacidade de reconhecer objetos a uma determinada distância) e o campo visual (amplitude da área alcançada pela visão).

“Temos uma tabela que usamos como referência. Quando a acuidade visual pela distância é igual ou melhor que 0,3 (20/70), consideramos deficiência visual leve; igual ou melhor que 0,1 (20/200), deficiência visual moderada; igual ou melhor que 0,05 (20/400), deficiência visual severa”, ensina.

Já a cegueira, ele acrescenta, é quando essa medida é igual ou melhor que 0,02, pior que 0,02 com percepção de luz e sem percepção de luz.

“Há as pessoas com ‘cegueira legal’ ou ‘cegueira parcial’, que só percebem vultos, só conseguem contar dedos a curta distância e só mantêm percepção luminosa, e com cegueira total, que se pressupõe perda completa de visão, sem que haja sequer a percepção luminosa”, diz.

O médico destaca ainda que para cada indivíduo cego existem, em média, 3,4 com baixa visão – diferenças regionais podem significar uma variação desse dado entre 2,4 e 5,5.

Fatores de risco para deficiência visual e cegueira

O documento do CBO informa que “os padrões globais de causas de cegueira diferem substancialmente entre os países, mas é possível associar sua prevalência às condições econômicas e de desenvolvimento humano, já que quase 90% dos casos estão em locais de baixa e média renda”.

O Conselho dá como exemplo a proporção de cegueira devido à catarata: é de 5% em economias de mercado estabelecidas e chega a 50% nas regiões mais pobres do mundo, por conta do acesso aos serviços de saúde ser deficitário.

Outro fator de risco importante é a idade. Para se ter uma ideia, mais de 82% de todas as pessoas cegas no mundo são maiores de 50 anos. A entidade pontua que, independente da classe social, a estimativa de perda total de visão é de 15 a 30 vezes maior em pessoas com mais de 80 anos do que nas com até 40 anos.

Além disso, entram na lista sexo, sendo que as mulheres têm mais chance do que os homens, principalmente por causa de sua expectativa de vida maior, tabagismo, exposição à radiação ultravioleta, deficiência de vitamina A e distúrbios metabólicos, como o diabetes.

Principais causas de cegueira e deficiência visual

As três principais causas de cegueira no mundo e no Brasil são doenças que acometem, sobretudo, os idosos: catarata, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Outra que merece atenção é a retinopatia diabética.

Quando se trata de deficiência visual, as mais significativas são erros de refração (miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia) não corrigidos, catarata e DMRI.

A boa notícia é que o CBO garante que cerca de 74,8% dos casos de cegueira e deficiência visual podem ser prevenidas ou curadas.

Catarata

Consta no relatório “As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2019” que a proporção de cegueira devido à catarata, em relação a todas as outras doenças oculares, varia de 5% na Europa Ocidental, na América do Norte e nos países mais desenvolvidos da região Oeste do Pacífico a 50% ou mais em localidades mais pobres.

Essa doença, junto com os erros de refração, são as principais causas de deficiência visual reversível. Mais frequente nos idosos, ela é caracterizada pela perda de transparência do cristalino, lente natural responsável por garantir foco e nitidez.

O tratamento é a cirurgia, na qual é inserida uma lente intraocular. “Trata-se de um procedimento altamente eficaz e que promove, na maioria dos casos, a reabilitação quase imediata da visão”, afirma Marcos Ávila, ex-presidente do CBO e atual membro do Conselho de Diretrizes e Gestão da entidade.

Ele comenta ainda que a catarata atinge aproximadamente 5% da população global com idade entre 60 e 65 anos; 12%, na faixa de 65 a 70 anos, e 40% acima de 70 anos.

Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI)

Essa é uma enfermidade ocular degenerativa e progressiva e que ocorre na mácula – parte central da retina responsável pela visão de detalhes e percepção de cores -, provocando embaçamento de visão, lento ou abrupto, e distorção de imagens.

É a maior causa de cegueira irreversível em indivíduos com mais de 50 anos nos países desenvolvidos, e a previsão é de que, até 2020, atinja 19 milhões de pessoas.

O CBO diz que opções atuais para a prevenção da DMRI são limitadas, mas há tratamentos, como injeções intravítreas de antiangiogênicos.

Erros de refração

Os erros de refração são quatro: miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia. O mais incidente é a miopia – estima-se que, em 2020, um terço da população mundial terá o problema.

Ela se dá quando o globo ocular é muito comprido ou a córnea muito curva, o que faz com que os raios de luz focalizam antes do ponto certo na retina. Assim, seu portador não consegue enxergar de longe.

No astigmatismo, pelo fato de a córnea ter um formato irregular (ovalada), o feixe de luz incide em ângulos diferentes, gerando uma imagem distorcida, tanto de perto quanto de longe.

A hipermetropia é caracterizada pelo globo ocular menor do que o normal ou a córnea mais curva. Isso provoca uma focalização errada da imagem – ela se forma após a retina -, e dificulta a visão de perto.

Por fim, a presbiopia (ou vista cansada) é uma condição que surge quase sempre após os 40 anos e prejudica a visão de perto e de longe. Neste caso, o que acontece é a perda natural da elasticidade e do poder de acomodação do cristalino.

O CBO relata que as opções mais utilizadas para corrigir os erros de refração são óculos, lentes de contato e cirurgia refrativa (remodelação da córnea por laser).

Glaucoma

O glaucoma é caracterizado por um grupo de condições relacionadas a danos ao nervo óptico, cujo principal fator de risco é o aumento da pressão ocular, medida que indica a tensão no interior do olho e tem valor médio de 16 mmHg.

Ele provoca o estreitamento do campo visual, fazendo com que a pessoa perca progressivamente a visão periférica e a central, e, na maioria dos casos, é assintomático.

Seu tratamento é feito com o uso regular de colírios específicos. Também pode ser necessária a realização de procedimentos a laser e cirurgia.

É uma enfermidade crônica, degenerativa e a principal responsável pela perda irreversível da visão. Projeções da OMS indicam que ela afetará 80 milhões de pessoas em 2020 e 111,5 milhões em 2040.

Retinopatia diabética

O CBO relata que a retinopatia diabética, uma complicação do diabetes, é responsável por 4,8% dos casos de cegueira no mundo. Embora algumas de suas formas possam ser tratadas, uma vez que a visão tenha sido perdida, não pode ser totalmente restaurada.

O ex-presidente da entidade explica que o diabetes descontrolado provoca a dilatação dos vasos que irrigam a retina. “Essa condição permite a passagem de sangue, gordura e líquido para dentro dela, o que, aos poucos, vai destruindo as suas células.”

Os estágios iniciais são tratáveis com aplicação de laser e injeções de substâncias antiangiogênicas. Além disso, em qualquer situação, é fundamental o controle da patologia de origem, que atinge, atualmente, 425 milhões de pessoas em todo o mundo.

Fonte: BBC Brasil

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