Tem bairros aqui em Salvador, como Capelinha de São Caetano, da Paz, Santa Cruz, como em todo o Brasil, que a maioria mata o tempo, já fiz trabalhos nestes bairros e assim compreendo o contraste, e comecei a conhecê-los e pude comparar.
Antes, os pontos de referência que eu tinha eram as estatísticas do IBGE. Vi nas ruas pessoas tristes, numa dessas crises de vazio melancólico que, às vezes, assalta os pobres urbanos, um sofrimento que abate o coração e os levam a beber nas manhãs ou nas tardes de um dia de semana, tendo várias garrafas de cerveja na mesa.
Ali existem palavras e gestos em busca da alienação, da fuga do real, não como nos bairros nobres na Graça, Itaigara e Pituba, onde temos boa comida e não fazer nada é um presente diário com vários significados de crescimento pessoal.
Bairros pobres ficam sempre do lado errado da cidade, não importa qual lado seja. Ninguém mais tem comoção pela pobreza, acredito ser uma cisão ou exclusão no inconsciente do burguês de tanta pobreza que hoje existe.
Vivencio a pobreza a partir de uma perspectiva do distanciamento, desta cisão, representado diante de mim como um imenso muro negro que oprime a alma, obscurece o ânimo de uma vida que deveria ser justa e igualitária.
É como um grande relógio empurrado seus ponteiros: quando os ponteiros se juntarem ambos estarão se separando, o pobre no mundo da sobrevivência e da alienação e o rico no mundo do desfrutar cada instante vivido com significado novo.
– Perdidos um para o outro, nunca mais os ponteiros estarão juntos. E com a queda constante do PIB nesta pandemia, com tantas lojas fechando dentro de alguns minutos será o “nunca mais?”, e a miséria dominará o país.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.