Caos Aéreo

Caos Aéreo

A crise no setor aéreo brasileiro ou “apagão aéreo”, foi uma série de colapsos no transporte aéreo, que foram deflagrados após o acidente do voo Gol 1907 em 29 de setembro de 2006.

Estava voltando de Bariloche, e viajem de avião tem sempre o check-in, hoje se você só tem bagagem de mão, pode fazer pelo celular, mas se for despachar, passa no guiché. Eram nove da manhã, estava nevando desde a noite anterior, e o trânsito era mais denso que de costume nas ruas da cidade, e mais lento ainda na estrada e havia caminhões de carga alinhados nas margens, e automóveis fumegantes na neve. No saguão do aeroporto de Bariloche, porém, a vida continuava em primavera.

Nos estávamos na fila atrás de uma anciã que demorou quase uma hora discutindo o peso de suas onze malas. Começava a me aborrecer, mas, finalmente, chegou a minha vez, a funcionária continuava com os olhos fixos na tela do computador, e me perguntou que assento eu preferia, qualquer lugar desde que não seja ao lado das onze malas. Ela agradeceu com um sorriso comercial sem afastar a vista da tela fosforescente. Escolha um número três, quatro, ou sete.

– Quatro. Seu sorriso teve um fulgor triunfal. Nos quinze anos em que estou aqui – disse – é o primeiro que não escolhe o sete. Marcou no cartão de embarque o número do assento e me entregou, olhando-me pela primeira vez com uns olhos cor de uva que me serviram de consolo, mas só agora avisou que o aeroporto acabava de ser fechado e todos os voos estavam adiados.

Até quando? Só Deus sabe – disse com seu sorriso – O rádio avisou esta manhã que “existe operação padrão dos controladores de voo no Brasil”. No aeroporto encontrei um espetáculo assustador. Gente de todo tipo havia transbordado as salas de espera e estava acampada nos corredores sufocantes, e até nas escadas, estendida pelo chão com suas crianças, e seus trastes de viagem. O aeroporto parecia uma feira. Na hora do almoço havíamos assumidos nossa consciência de náufragos. As filas tornaram-se intermináveis diante dos restaurantes, as cafeterias, os bares abarrotados, e em menos de três horas tiveram que fechar tudo porque não havia nada para comer ou beber. As crianças, que por um momento pareciam ser todas as do mundo, puseram-se a chorar ao mesmo tempo, e começou a se erguer da multidão um cheiro de rebanho. Era o tempo dos instintos. A única coisa que consegui comer no meio daquela confusão foi um sanduíche numa lanchonete. O voo para Salvador, previsto para as onze da manhã, saiu às oito da noite. Finalmente consegui embarcar.

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