“Exalta-te, ó Deus, acima dos céus; estenda-se a tua glória sobre toda a terra! Salva-nos com a tua mão direita e responde-nos, para que sejam libertos aqueles a quem amas.” (Salmos 108.5-6)
Na experiência de adoração do salmista, inevitavelmente ele chega a suplica. Diante de tudo que Deus é, fica evidente sua carência. Ele precisa da manifestação de Deus. Ele a deseja. E a deseja de um jeito próprio e comum a quase todos nós, que cremos em Deus. Ele pede que Deus se mostre, se revele, que aja de tal forma que não reste dúvida sobre sua existência e soberania, confrontando definitivamente o descrente e confirmando o crente. Não seria ótimo? Não seria nossa frágil fé fortalecida e levada a limites ainda não experimentados? É como tantas vezes pensamos. Mas quanto à fé, é interessante o fato de que talvez ela se fortaleça exatamente no sentido contrário. Quando enfrentar o risco de ser destruída. Quando o sol se põe e nada acontece. E volta a nascer e tudo está igual. Como isso nos frustra em Deus: Seu silêncio e ocultamento.
O salmista pede ao exaltado Deus que Se exalte. O que ele deseja é que essa exaltação seja vista e sentida. Ele pede para que a glória de Deus, que enche o universo e nos rodeia, seja estendida, como um lençol, e cubra toda a terra. Como se não estivesse. E para ele não estava, como para nós tantas vezes também não. Ficamos irados com Deus, por não nos satisfazer. O salmista clama por salvação. A palavra aqui não é usada no sentido de salvação eterna, mas de salvação dos problemas e lutas da vida. O salmista é mais existencialista que nós costumamos ser. Ele crê que é amado, e nós também devemos imitar sua fé e não apenas nos igualar em suas fragilidades. Ele certamente percebeu que mesmo os amados por Deus sofrem. “Há momentos em que aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças; voam bem alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam.” (Is 40.31). Mas há momentos em que não é assim.
Há momentos em que sentimos as forças indo embora e temos sérias dificuldades para andar. Voar é impensável. Uma pequena caminhada já nos deixa sem fôlego. Desejamos ser salvos. O salmista estava desejando e pedindo. Devemos também pedir. Pedir e continuar crendo. Tudo isso é fruto da adoração. E a benção desse momento não se resume ou se restringe à resposta que esperamos obter. A bênção é também, e muito mais, o próprio momento. O momento em que escolhemos adorar, em que ansiamos pela manifestação de Deus e clamamos por salvação. Neste momento a vida deixa de ser do tamanho do mundo e de nossas possibilidades e ganha contornos eternos. Deus participa do drama. Ele sabe como nos sentimos confusos e inconformados com Seu jeito divino de administrar crises. Mas a história ainda não acabou. A vida est seguindo e podemos crer e esperar. A espiritualidade cristã é assim, intensa. E tudo isso começa com a adoração.