Antes da pandemia, caminhava aqui da Graça até o Campo Grande, cerca de 5 km, interrompi na pandemia, pois não gosto de andar com máscara, retornei agora.
É bom caminhar pela manhã, os sentidos rejuvenescidos, a alma limpa pelo banho terapêutico na alma. Olhamos em direção ao dia que está à nossa frente com renovada confiança, mas hesitamos prazerosamente a começá-lo.
Caminhando tenho a ilusão de uma vida constante, simples, concentrada e serena, voltada a si mesma, a ilusão do autopertencimento traz felicidade, pois o ser humano tende a considerar seu estado momentâneo, seja ele animado ou confuso, pacífico ou apaixonado, o estado verdadeiro, natural e duradouro de sua vida, enquanto, na verdade, está condenado a viver de improviso.
Assim, inspirando o ar matinal, acredito na liberdade e na virtude, mas deveria saber – e no fundo, sei – que o mundo arma suas redes para me prender e que, provavelmente, amanhã ficarei na cama até as nove, porque me deitetarei mais tarde.
Hoje, sou um homem da alvorada. Nas caminhadas até o Campo Grande, encontro muitos buracos, com risco de queda, devido à falta de manutenção das pedras portuguêsas. No caminho, gente e mendigos, que aumentou muito depois da pandemia. Eis que a situação fica muito grave, para andar a noite com o aumento crescente de assaltos. Mas, no frescor das manhãs o risco é menor.