Fomos à Praga, há algum tempo atrás, e pegamos um guia para nos levar nos locais que este grande escritor ia. O mundo de Kafka é inóspito, e demoramos bastante para adentrá-lo. Ainda assim, suas frases penetram por debaixo da pele, fazem pensar, são difíceis de esquecer. “O sentido da vida é que ela termina”.
Fomos no Café Savoy, frequentado por ele, não esqueço aquele ritual. Um fio delgado de café preto escorreu do bico estreito do bule. Diferentemente do som de gorgolejo que o líquido fazia ao ser servido pela jarra de boca larga, o café encheu a xícara branca em silêncio e bem devagar, nunca tinha visto um bule como aquele. Era um pouco menor dos que já tinha visto em outros cafés. Era robusto, mas muito elegante e refinado. Kafka era especial então o café tinha que ser especial. Ali onde ficava, muitas vezes, segundo o guia, a sós consigo mesmo, onde tudo o que os sentidos registravam era aquela xícara de café.