Brasileiro exige mais na hora de adotar criança do que estrangeiro

Brasileiro exige mais na hora de adotar criança do que estrangeiroOs brasileiros põem mais obstáculos à adoção de crianças que os estrangeiros que vêm ao País interessados em aumentar a família. Segundo dados do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), quase 100% dos casais brasileiros recusam crianças negras, pardas e indígenas enquanto 77% dos estrangeiros são indiferentes à cor da pele. Filhos de pais portadores do vírus HIV são rejeitados por 48,9% dos casais brasileiros contra 27,4% dos estrangeiros.

Já as crianças geradas por incesto são recusadas por 55% dos brasileiros e 48,5% dos estrangeiros. Ainda no caso dos estrangeiros, embora haja mais rejeição a vítimas de estupro (85% ante 61% dos brasileiros), os maiores porcentuais de recusa se resumem a problemas de saúde, como problemas físicos e mentais não tratáveis.

“Os pais que vão para a adoção já tiveram parte de um sonho destruído. E recomeçam suas expectativas do filho ideal, saudável, que vai para a faculdade, se casa e lhes dão netos”, explica Halia Pauliv, autora de vários livros sobre a adoção e presidente da ONG Adoção Consciente. Para a professora de Psicologia da PUC-SP Miriam Debieux Rosa, também autora de livro sobre adoção, as restrições dos brasileiros vêm de uma necessidade cultural de apagar “evidências de que a criança vem de outra origem”. “Na visão dos pais, isso facilita tomar essa criança como filho. O caminho para essa identificação passar pela cor da pele e pela recusa da criança que traga um passado ‘impresso’”, diz Rosa. “Em alguns países, há lei que permite ao filho adotivo saber quem são os pais biológicos, o que não existe aqui.”

A ONG Cruz Verde, na Vila Clementino, cuida de 206 crianças com doenças mentais ou neurológicas graves, como paralisia cerebral. A superintendente da ONG, Marilena Pacios, é contrária à adoção de crianças nessas condições. “Elas não têm perspectiva. Não vão andar, falar ou se reabilitar. Muitas têm agravos clínicos. Por exemplo, precisam ser higienizadas 14 vezes por dia ou usam balão de oxigênio 24 horas por dia”, diz. “Elas precisam de atendimento especializado o tempo todo. Aqui, estão melhor amparadas”, acredita.

Cadastro – Não há estimativas de quantos rejeitados há em São Paulo ou no País. Hoje, o cadastro de interessados em uma adoção é nacional e contabiliza 31 mil casais para 8.014 crianças. “A desproporção se deve ao fato de que a preferência inicial dos casais ainda é adotar menina, recém-nascida e branca”, resume o desembargador Antônio Carlos Malheiros, do TJ-SP.


Fonte: Agência Estado

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