Brasil: Doença rara se transforma em epidemia

Por Daniel do Valle / O Sollo

País declara Emergência em Saúde Pública. Novas ocorrências revelam que a quantidade de bebês com a microcefalia na Bahia pode ser ainda maior.

Brasil: Doença rara se transforma em epidemiaSe não bastasse a Dengue, a Febre Chikungunya, a síndrome de Guillain-Barré e a Zika, o mosquito Aedes Aegypti ganha, mais uma vez, as páginas dos jornais como principal suspeito. O pequeno mosquito e maior vilão da saúde pública também pode estar por traz de uma enfermidade grave, que compromete, sobretudo, a gestação e os bebês. A microcefalia, uma doença rara, se transforma em epidemia no Brasil como surto inédito na saúde mundial.

A Bahia registra aumento no número de casos de microcefalia, em comparação com o ano passado. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado no último dia 24, oito ocorrências estão sendo investigados no Estado, este ano. Já a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) notificou 13 casos, contra apenas sete em 2014, mas o número pode ser ainda maior.

Em Itabuna, a maternidade do Hospital Manoel Novaes registrou nos últimos dois meses seis casos de microcefalia, de acordo com a direção da unidade. Um bebê também nasceu com a doença em Feira de Santana, no último dia 18, segundo informações da direção do Hospital da Mulher. Alguns dos casos citados ainda não foram registrados pela Sesab, muito menos pelo Ministério da Saúde.

De acordo com a Sesab, “no dia 13 de novembro o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) foi informado da ocorrência de nove (09) casos de microcefalia em filhos de gestantes com relato de casos Zika vírus, sendo três (03) em Salvador, um (01) no município de Itabuna, (01) em Santa Terezinha, um (01) em Porto Seguro, um (01) em Madre de Deus, um (01) em Lauro de Freitas, um (01) em Simões Filho. Esses casos podem ainda não estar registrados no Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc), mas o conhecimento dos mesmos em um curto espaço de tempo deixa o Estado da Bahia em alerta”.

Microcefalia

A microcefalia não é um agravo novo, como informa o Ministério da Saúde. Trata-se de uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro da cabeça menor que o normal, que habitualmente é superior a 33 cm. O desenvolvimento das funções motoras, fala e aprendizado pode ser afetado.

Esse defeito congênito pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes origens, como as substâncias químicas, agentes biológicos (infecciosos), como bactérias, vírus e radiação. Mas, todas as suspeitas sobre os casos recentes caem sobre o mosquito Aedes Aegypti.

Relação com Zica Vírus

O Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz/RJ, participa das investigações e concluiu, no dia 17 de novembro, diagnósticos que constataram a presença do genoma do vírus Zika em amostras de duas gestantes da Paraíba, cujos fetos foram confirmados com microcefalia através de exames de ultrassonografia. O material genético (RNA) do vírus foi detectado em amostras de líquido amniótico, com o uso da técnica de RT-PCR em tempo real.

Apesar de ser um achado científico importante para o entendimento da infecção por Zika vírus em humanos, os dados atuais não permitem correlacionar inequivocamente, de forma causal, a infecção pelo Zika com a microcefalia. Tal esclarecimento se dará por estudos coordenados pelo Ministério e outras instituições envolvidas na investigação das causas de microcefalia no país.

O fato já foi comunicado à Organização Mundial de Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde, conforme os protocolos internacionais de notificações de doenças.

Epidemia de Zica

O problema é que a Bahia vive uma epidemia da doença. No ano de 2015, até o último dia 18, foram notificados 62.635 casos suspeitos de Zika, representando uma incidência de 414,08 casos/100 mil habitantes, como informa a Sesab.

Do total de municípios da Bahia, 284 (68,10%) apresentaram ocorrência da doença, entre os quais destacam-se dez municípios com mais de 65,47% dos casos: Salvador, Camaçari, Itabuna, Senhor do Bonfim, Monte Santo, Feira de Santana, Simões Filho, Santo Antônio de Jesus, Eunápolis e Alagoinhas. O maior número de casos ocorreu em indivíduos entre os 20 e 39 anos. O sexo feminino corresponde a 64% do total.

Emergência em Saúde Pública

Até 21 de novembro de 2015, foram notificados 739 casos suspeitos de microcefalia, identificados em 160 municípios de nove estados do Brasil, de acordo com a segunda edição do informe epidemiológico sobre microcefalia, divulgado no dia 24 de novembro. Isso significa que, possivelmente, o mesmo número de crianças pode desenvolver problemas de malformação congênita.

O estado de Pernambuco mantem-se com o maior número de casos (487), sendo o primeiro a identificar aumento de microcefalia em sua região e que conta com o acompanhamento de equipe do Ministério da Saúde, desde o dia 22 de outubro.

Em seguida, estão os estados de Paraíba (96), Sergipe (54), Rio Grande do Norte (47), Piauí (27), Alagoas (10), Ceará (9), Bahia (8) e Goiás (01). Entre o total de casos, foi notificado um óbito suspeito no estado do Rio Grande do Norte. Este caso está em investigação para definir a causa da morte.

A investigação está sendo realizada pelo Ministério da Saúde de forma integrada com as secretarias estaduais e municipais de saúde, com o apoio de instituições nacionais e internacionais. Comitês de especialistas apoiarão o Ministério da Saúde nas análises epidemiológicas e laboratorial, bem como no acompanhamento dos casos.

Está declarado Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, através de Portaria publicada no dia 11 deste mês, e novos casos surgem pelo país.

Gestantes

O ministério da Saúde informa que é importante que as gestantes mantenham o acompanhamento e as consultas de pré-natal, com a realização de todos os exames recomendados pelo médico. Há ainda orientação para não consumirem bebidas alcoólicas ou qualquer outro tipo de drogas, não utilizar medicamentos sem orientação médica e evitar contato com pessoas com febre ou infecções.

“As gestantes devem adotar medidas que possam reduzir a presença de mosquitos transmissores de doença, com a eliminação de criadouros, e proteger-se da exposição de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes”, ainda e acordo com o Ministério.

Enquanto as ocorrências de microcefalia são atualizadas e investigadas, a Frente Parlamentar da Saúde divulgou nota, no dia 19, recomendando que as mulheres adiem o plano de engravidar neste momento. É isso mesmo, o sonho da gravidez e as taxas de natalidade de todo país estão comprometidos por uma doença. O Brasil segue refém do mosquito.

 

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