Um conjunto de boxes abandonados, construídos pela Prefeitura de Porto Seguro, próximo a Praça da Bíblia, no Centro, vem sendo utilizado como local de consumo e tráfico de drogas e também esconderijo de assaltantes. O lugar ainda serve de abrigo para mendigos, que lá fazem suas necessidades fisiológicas e deixam restos de lixo. Moradores do bairro o denominam “cracolândia”, tendo em vista a presença de materiais para consumo de entorpecentes, como latas perfuradas (para fumar crack) e o uso ostensivo de substâncias psicotrópicas ilícitas. Na mesma rua está instalado o Conselho Tutelar, que reclama de falta de condições materiais e de segurança para realizar o seu trabalho.
Na última terça-feira, dia 26, um homem teve a barriga rasgada por golpes de foice, deixando suas vísceras expostas. O autor da tentativa de homicídio foi um adolescente de 17 anos, identificado como F., que foi apreendido pela Polícia Militar e deverá ser encaminhado para Salvador, onde poderá cumprir medida sócio-educativa, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A vítima foi socorrida por uma equipe do Samu e conduzida para o Hospital Luís Eduardo Magalhães (HLEM). Ainda não foram divulgadas informações sobre o seu estado de saúde.
Crimes
Outro morador, que se identificou pelo prenome Alex, disse que a insegurança passou a existir a partir da construção dos boxes, na administração Jânio Natal (2005-2009). “Depois que ergueram essa estrutura, que se encontra abandonada, passou a ser ocupada por indigentes e drogados. Aqui, já saiu tiros, facadas e outros atentados à vida. Andamos pela rua com medo. Até eu, que sou homem e tenho 1,90 metro de altura, já fui ameaçado. Já houve furtos em todas as casas da rua. Além disso, somos incomodados pelas cenas de prostituição que temos que assistir e pelo mau cheiro de fezes humanas, urina e lixo”, protestou.
Baleado no Arraial d´Ajuda e “largado” na “cracolândia”
O Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) foi contatado pelo jornal O Sollo. Não foi possível falar com o coordenador, mas a atendente, que não quis fornecer a sua identidade, negou veementemente a veracidade de tal alegação. “Essa informação não procede. O Samu não fica com paciente baleado na ambulância. O que a equipe faz é conduzi-lo ao hospital de referência, que é o HLEM, acompanhada da polícia, que permanece no hospital durante o atendimento e até a liberação do paciente, quando possível, para que preste os esclarecimentos pertinentes ou, em caso de morte, até que se encaminhe o corpo para o IML. O Samu leva a vítima para o hospital e a deixa lá, com as autoridades. Em nenhuma hipótese, sairia com o paciente após o atendimento”, explanou.
Vereador Evaí Fonseca cobra providências
De acordo com o conselheiro tutelar José Carlos Dias dos Santos Filho, o órgão carece de condições adequadas de trabalho, principalmente no tocante a segurança e transporte. José Carlos afirma que, devido à falta de um segurança a serviço do Conselho Tutelar, foram adotadas medidas compensatórias. “Reduzimos nosso expediente, que se encerrava às 17 horas, para as 14h. Além disso, não dispomos de transporte, não tendo como atender às localidades mais distantes da sede do município. Caso essa situação se perdure, encerraremos as nossas atividades neste local. O secretário de Trabalho e Assistência Social, Élio Brasil, e o prefeito Gilberto Abade têm ciência de todas essas deficiências e até o momento não tomaram nenhuma providência para reverter esse quadro”, declarou, salientando: “Ficamos à mercê dos marginais que agem nas redondezas e temos que sentir um mau cheiro horrível. Fazemos o nosso trabalho, que é voltado para as crianças e adolescentes, inclusive a que estão em situação de risco social, mas precisamos do apoio do poder público”, acrescentou.
Secretário de Assistência Social diz que município faz a sua parte
O secretário de Trabalho e Assistência Social negou existir falta de cooperação da prefeitura para com o Conselho Tutelar. “Não é verdade que o Conselho Tutelar não dispõe de meio de transporte. Colocamos dois carros à sua disposição e se esses não forem suficientes arranjaremos mais. Entretanto não podemos colocar um segurança para proteger o órgão, pois se o fizermos teremos que oferecer proteção para cada residência. O Conselho Tutelar não deve fugir das suas responsabilidades. Ele tem que estar junto de quem precisa do seu trabalho e, por essa ótica, o melhor local é aqui”, considerou Élio Brasil, ressaltando: “O problema da mendicância não é restrito a Porto Seguro. Ele se verifica em toda a América Latina. Não podemos impedir que pessoas em situação de rua venham de outros municípios ou estados para ficarem desamparadas em nossa cidade. Prestamos todo o apoio necessário a esses cidadãos, inclusive no sentido de lhes dar oportunidades para retornarem aos seus locais de origem”, finalizou.