Baiano troca carne por ovos e frango para suportar crise

Preço varia, mas não compensa

Em tempos de crise, desemprego e salários minguados, entre gastar R$ 4,00 por uma dúzia de ovos, R$ 9,80 por um quilo de coxa e sobre coxa de galinha e R$ 24,50 por um quilo de carne de 1ª, a opção mais em conta lidera as vendas em mercados e açougues de Salvador. Mas não só na capital baiana, mas em todo o Estado, onde as vendas de carne bovina caíram 30% este ano, apesar dos preços serem os mesmos do ano passado.

Proprietários de açougue se queixam de que a população vem cada vez mais optando por produtos similares, como carne de porco e frango, em vez da carne bovina. “Não dá para comparar, quando você percebe que o seu salário mal dá para pagar as contas e vê o preço da carne a R$ 24 e a coxa de frango a R$ 9. Lógico que vou comprar o frango”, resume o representante comercial, Ozimar Conceição, 32, ao ser questionado sobre o consumo de carne bovina.

Segundo o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados na Bahia (Sincar), a queda chega a 30%, com 105 mil cabeças de bois abatidas por mês no Estado, contra 100 mil mensais em igual período do ano passado. O presidente do Sincar, Júlio Cesar Farias explica que, ao contrário do que se pensa, os preços permanecem mais ou menos equivalentes aos praticados em 2014. “O que há é uma crise econômica que afeta todos os setores da economia e, consequentemente, diminui o consumo”, resume.

A Bahia já foi o terceiro estado com maior rebanho bovino do Brasil, mas hoje ocupa a 9ª posição, com aproximadamente 12 milhões de reses, atrás dos estados de Mato Grosso, Mato grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Tocantins e Pará. Em comparação com 2014, houve uma redução de 66 mil cabeças de gado abatidas este ano. “mesmo com as exportações, com a estabilização dos preços, a crise fez com que o consumo de carne caísse e continuar a cair”, diz o presidente do Sincar, Júlio César Farias.

Preço varia, mas não compensa

Segundo o presidente do Sincar na Bahia, Salvador é quem oferece, dentre as capitais brasileiras, os preços mais em conta para a carne bovina. “Em São Paulo, a arroba do boi custa em torno de R$ 140, contra R$ 150 na Bahia, mas aqui na capital o preço é mais em conta”, diz.

Em açougues tradicionais, como o Frigorífico Dois de Julho, no centro da cidade, é possível, por exemplo, encontrar a carne de primeira (Alcatra, Chã de Dentro) por R$ 19,98 o quilo, e a carne de terceira (Chupa Molho) a R$ 9,99. Mesmo assim, conforme explicou o gerente de operação do estabelecimento, Ademir Cerqueira, houve uma queda entre 20 a 25% nas vendas, e um aumento de 15% na venda de frango e derivados.

O açougue costumava comprar 25 bois por semana, tendo reduzido isso 18 e 19. Em compensação, a venda de coxa e sobre coxa, que custa R$ 7,98 o quilo, aumentou em 15% nos dois últimos meses. “A pessoa chega e vê o preço da carne e do frango e acaba levando o frango, ou comprando carne em menor quantidade”, diz.

É o que diz a responsável Frigorífico de Carnes Irajá no bairro do Rio Vermelho, Iraíldes Santos. O estabelecimento costuma comprar até cinco bóias por dia, mas teve que reduzir essa compra em quase 50% por causa da queda nas vendas. Ali é possível comprar carne de 1ª quer varia de R$ 16,50 a R$ 24,50, e frango a R$ 9,80. “As vendas de carne vêm caindo e o inverso acontece com os derivados de frango”, se queixa a empresária.

Até o mês de outubro, segundo os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), o abate de o abate de bovinos no Brasil (7,56 milhões de cabeças) registrou quedas de 0,9% em relação ao 2º trimestre de 2015 e de 10,8% frente ao 3º trimestre de 2014. Já o abate de frangos, com 1,50 bilhão de cabeças, também foi o maior desde 1997, apresentando aumentos de 7,1% em relação ao 2º trimestre de 2015 e de 6,9% na comparação com o mesmo período de 2014.

Abate de boi tem queda de 10,8%

No 3º trimestre de 2015 foram abatidas 7,56 milhões de cabeças de bovinos sob algum tipo de serviço de inspeção sanitária. Essa quantidade foi 10,8% menor que a apurada no 3º trimestre de 2014 (8,47 milhões de cabeças), e 0,9% menor que a registrada no trimestre imediatamente anterior (7,62 milhões de cabeças).

Em nível nacional, o abate de 913,87 mil cabeças de bovinos a menos no 3º trimestre de 2015, em relação a igual período do ano anterior. As principais quedas ocorreram em: São Paulo (-191,21 mil cabeças), Mato Grosso (-160,58 mil cabeças), Minas Gerais (-131,11 mil cabeças), Mato Grosso do Sul (-116,65 mil cabeças), Paraná (-76,84 mil cabeças), Bahia (-66,52 mil cabeças) e Goiás (-60,49 mil).

Se há queda nas vendas de derivados de carne bovina, o mesmo não se pode dizer do consumo de ovos de galinha. Conforme os números do IBGE, a produção de ovos de galinha registrou novo recorde com 749,96 milhões de dúzias, representando aumentos de 3,9% sobre o 2º trimestre de 2015 e de 4,1% sobre o 3º trimestre de 2014. A produção de ovos de galinha foi de 749,96 milhões de dúzias no 3º trimestre de 2015, alcançando, no 3º trimestre de 2015, o nível mais alto da série desde 1987, quando a pesquisa foi iniciada.

Já o abate de frangos mostrou crescimento em 2015. No 3º trimestre deste ano foram abatidas 1,50 bilhão de cabeças de frangos, alcançando novo recorde da série histórica iniciada em 1997. Esse resultado significou aumentos de 7,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 6,9% na comparação com o mesmo período de 2014.

Adilson Fonseca/Tribuna da Bahia

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