Dário Ahnert conta que problema principal é a falta de chuva na plantação.
Acréscimo de temperatura é de 1°C, aponta escritório meteorológico.
O aumento médio de 1°C na temperatura média da superfície do planeta pode prejudicar a plantação do cacau no sul da Bahia, aponta Dário Ahnert, pesquisador e professor de genética e melhoramento de plantas do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Ahnert desenvolve um estudo referente ao cacau e mantém pesquisas sobre o fruto.
“O problema do aumento de temperatura, não é o calor, mas sim, a falta de chuva. Isso porque a plantação do cacau precisa de 40 litros de água diários por planta, e se não chove, a situação fica complicada”, alerta o professor.
A notícia do aumento da temperatura foi divulgada no início do mês de novembro deste ano pelo Escritório Meteorológico do Reino Unido, o Met Office. Com isso, ao atingir o limite de 1°C, o planeta chega à metade da trajetória para um aquecimento de 2°C, considerado “perigoso” por climatologistas.
A relação entre o acréscimo da temperatura e a plantação de cacau também é avaliada por Milton Andrade, representante do Sindicato Rural de Ilhéus, cidade do sul da Bahia conhecida pela produção e exportação de cacau.
“A gente já vem sofrendo com o aquecimento global por conta do El Niño, que apesar de estar relacionado ao calor, provoca a estiagem, causa interferência na movimentação da temperatura dos oceanos. Com isso, o item temperatura nunca está sozinho e fenômenos como esse [El Niño] são danosos à agricultura”, avalia Andrade.
Ele também destaca que, no caso da produção de cacau, o problema maior do calor é ocasionar falta de chuva. “Desde setembro [de 2015], estamos com um índice pluviométrico muito abaixo do normal. Estamos no meio de novembro e não tivemos 50 milímetros chuva neste mês na região cacaueira, sendo que a média mensal é de 120 milímetros. Em média, na região cacaueira, chove de 1.300 até 1.500 milímetros de chuva durante o ano. E esse ano, até o mês de novembro, tem lugares que não chegaram nem a 1000 milímetros”, afirma o representante do sindicato rural de Ilhéus.
Ainda de acordo com Milton Andrade, a região cacaueira é formada por 93 municípios. Historicamente, Ilhéus é a cidade de maior porte de produção, pois é beneficiada naturalmente por estar em uma área de zona litorânea e onde costuma chover abundantemente. Já os municípios mais distantes do litoral sofrem com a estiagem, entre eles destaca Ipiaú, Itagibá e Ibirataia.
“A planta do cacau é perene [possui um ciclo de vida longo], o grande probleblema é a floração que diminui. Sem água, ela [a planta] deixa de funcionar, seu metabolismo se altera e toda a estrutura da planta é prejudicada. No lançamento da flor, por exemplo, que é a fase de produção, a planta não tem recurso hídrico suficiente, então a flor cai. Tudo isso é fruto de uma planta desidratada. Ela começa a priorizar a existência dela, usando a energia que tem para sobreviver e assim não aflora”, explica Andrade.
Consequências atuais
Durval Libanio, representante do Instituto Cabruca, entidade que atua desde 2007 em Ilhéus, a estiagem em 2015 já provocou a perda na produção do cacau. “Só terminamos de fazer as contas da safra em janeiro de 2016, mas este ano a gente já avalia uma queda de 20% a 30% da safra por conta da seca”, conta.
O Instituto Cabruca incentiva o plantio do cacau entre a mata, por meio de um sistema ecológico de cultivo agroflorestal. “Fazemos o plantio sem derrubar diretamente a mata, plantamos o cacau entre as árvores, é um forma de fazer sombra para plantação e aumentar a humidade”, explica Libanio.
A situação das chuvas também é abordada por Agdo Muniz, presidente do Instituto Pensar Cacau. A entidade que funciona desde 2011 na cidade de Itabuna, no sul da Bahia, trabalha com demanda cacauicultura, busca de novas tecnologias, importação do cacau, qualidade do produto, qualificação da mão-de-obra e tem como maior “bandeira” a anulação das dívidas do cacau.
“O calor em si não é um problema porque o cacau suporta uma temperatura na faixa de 18° C e 27°C. O problema é o que o calor pode causar, como a estiagem, por exemplo. É importante destacar que baixas temperaturas inibem a planta, como também a falta de humidade. De junho a agosto, por exemplo, choveu bastante em Ilhéus isso prejudicou a plantação. Chover demais em um determinado período e secar demais em outro não ajuda nesse tipo de plantação [cacau]. O ideal é de que seja algo equilibrado, que haja chuva, mas não em excesso”, conta Muniz.
Resistente à seca
O professor Dário Ahnert coordena uma pesquisa que tem o objetivo de encontrar um cacau mais resistente ao calor por conta da seca em áreas da região sul da Bahia. Ele explica que a intenção não é criar um “novo cacau”, mas sim, descobrir qual tipo suporta ficar maior tempo com pouca quantidade de água.
“A gente está pesquisando em nível de vegetação. Pegamos diferentes plantas de diferentes origens geográficas. A gente pega essas plantas e submete a diferentes níveis de seca. A gente põe a planta em um vaso maior, irriga e depois vai tirando a irrigação dela. Depois, a gente observa o quanto ela suporta. A gente já identificou algumas plantas mais tolerantes, mais resistentes à seca. Agora vamos levar essa planta para alguma região de seca, tipo Ipiaú, que chove menos para ver se ela vai resistir. Não temos algo definido, a pesquisa está em andamento”, revela Ahnert sobre como está sendo desenvolvida a pesquisa.
Ele ainda conta que a pesquisa dura seis anos e que junto com cinco pesquisadores da Uesc e alunos de pós-graduação, eles fazem o “passo a passo” para encontrar a planta mais resistente. “É o mesmo cacau, mas de diferentes locais, como da Amazônia, no Brasil, além do Peru, Equador e México. Nos diferentes locais, a gente analisa quais deles são mais resistentes”, conta.
Maiana Belo/G1