Acordei com o barulho da chuva. Parecia estar caindo um dilúvio, e está a notícia, a arma falhou no momento em que foi disparada na direção da vice-presidente da Argentina. O momento passou, mas recaiu sobre mim, a visão da escuridão em que vivemos. As democracias, infelizmente, estão em perigo. Nos Estados Unidos, Joe Biden está já com quase oitenta anos, e Trump pode se reeleger. No caminho de Cristina Kirchner, gente de todo tipo, ela queria ver a outra gente, ouvi-la, cheirá-la, gostá-la, apalpá-la, aplicar todos os sentidos a um mundo que podia matá-la, mas este é o mundo do político, mas existia este brasileiro, que vive na Argentina há seis anos e é motorista de Uber.
A situação fica muito grave, pois tal ideia solta os cabrestos da fantasia, pois ela é admiradora de Lula, e refere-se com carinho a Fidel Castro e Hugo Chaves. Penso que este brasileiro ficou um bom tempo ali imóvel, em atitude radical, por fim lhe vieram pensamentos, enquanto as mãos estavam na arma, esperando o momento para atirar, ou melhor, matar. O tempo, de repente, foi instantâneo, apenas um disparo, que falhou. O tempo era um filme que mostrou ao mundo este ato insano. Nos olhos dessa mulher se acende, a incredulidade pela ousadia. O efêmero é a própria essência do existir, se a bala atingisse o alvo, tudo seria diferente. O mundo ainda parece inocente, mas a direção que o radicalismo está tomando é muito perigoso.