“As minhas culpas me afogam; são como um fardo pesado e insuportável. Minhas feridas cheiram mal e supuram por causa da minha insensatez.” (Salmos 38.4-5)
Essa não é uma maneira agradável de falar de si mesmo. O salmista está sob grande peso e tristeza, não há dúvida. Diariamente, muitas pessoas se sentem mal diante da vida e são abatidas por dores e tristezas. É como o salmista está. Mas há alguns detalhes importantes em suas declarações. Primeiro, ele assume as culpas como suas. Segundo, ele assume a própria insensatez. As culpas são minhas e eu fui insensato. Podemos não ser responsáveis por toda a dor, mas devemos assumir o que nos cabe.
Sermos capazes de identificar e assumir o que nos cabe nos problemas que enfrentamos, é fundamental para superarmos dores e nos sairmos melhor no futuro. Se não aprendermos as lições que os momentos difíceis nos podem ensinar, correremos o risco de enfrentar novamente as mesmas lutas, por trilharmos os mesmos caminhos, da mesma maneira. Talvez isso seja o que melhor esclareça os ciclos viciosos em que nos vemos aprisionados. A resistência em assumir as próprias culpas e insensatez torna-se o grande problema dos nossos problemas. Mas não precisa ser assim.
Devemos lutar em nossa fé para não ficamos nos limites da religiosidade, para não resumir nossa relação com Deus à prática de nossa liturgia ou disciplinas de fé. E um sinal de que estamos indo além, é a capacidade de ver as próprias culpas. A experiência de fé em Deus só é verdadeira se nos elucida quanto a nós mesmos, visto que a manifestação de Deus a nós, o lugar dessa relação, é a nossa intimidade. Para que nossa fé seja bonita, em algum momento precisaremos dizer coisas feias sobre nós mesmos, ainda que somente diante de Deus.