Aqui no meu pedaço de mundo, o momento não tem gosto de pobreza, nem de morte, mas com espanto leio, vejo e ouço notícias de aumento da pobreza e da violência e que em muitos lares a situação é de penúria, enfiados em pequenos espaços tentando sobreviver, e com a pandemia o mundo se tornou repleto de ecos, de soluços e de sombras, ao qual não conseguimos mensurar.
Nesta noite, apesar do coração ferido com a devastação deste vírus submeto minhas frases a um raio X, risco parágrafos e os reescrevo com o máximo possível de cuidado, avalio novamente, tentando aferir se não fui contaminado com a tristeza. Mas escrever um texto é construir uma ponte de tábuas em balanço, avançar e recuar no escuro, centímetro a centímetro, tábua a tábua, e o máximo que posso esperar é equilibrar-me sobre o precipício e há uma região inexplorada, longe desta pandemia, que é o mundo do futuro, e ai não há lógica alguma, apenas a imóvel germinação de acontecimentos que podem ser ficção ou não.
Posso pensar que temos vacina e que a economia terá emprego para todos e que nossa democracia é perfeita, pode ser ficção mas é a realidade que desejo e estou caminhando para o futuro, sei que viver é sonhar e deixar resíduos: cabelo, pó, lixo, filhos, cartas de amor, sapatos velhos, ossos. Nascemos, consumimos e morremos, esperando que nossos sonhos não sejam ficção e sim realidade.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.