Aprendendo a contar

“Como uma correnteza, tu arrastas os homens; são breves como o sono; são como a relva que brota ao amanhecer; germina e brota pela manhã, mas, à tarde, murcha e seca. Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria.” (Salmo 90:5-6,12)

Você se recorda quando aprendeu a contar até 10? Talvez você tenha repetido essa ação por milhares de vezes quando descobriu esse universo. Contava errado, invertia os números, esquecia algum e desistia pra disfarçar que esqueceu. Mas a emoção da contagem era única. Todo mundo em determinado momento da história passa por isso e posteriormente desenvolve a partir desse básico que foi aprendido. Ou seja, se não somos ensinados a contar o básico, não passaremos por essa aventura da descoberta e não cresceremos para questões mais complicadas. A última parte do texto de hoje nos ensina um caminho: da contagem para a sabedoria. É uma trajetória que precisa ser aprendida e trilhada.

Nesse aspecto de “contar os nossos dias”, acredito que o inicial, o ponto mais básico pra isso é prestar atenção nos dias, enxergá-los. Percebê-los acontecendo. A partir daí podemos contá-los. Como assim contá-los? Registrarmos na mente e no coração o que estamos vivendo. Experienciar o tempo. Não fechar os olhos para a vida, para as cores. Essa observação mais aguçada vai nos ajudar a construir a sabedoria que o coração precisa. E a sabedoria vai nos apoiar para os próximos dias. Se eu aprendi a contar os dias, posso chegar em determinado momento de uma decisão, de uma reação ou até mesmo de um silêncio que eu preciso viver e lidar com isso de forma mais leve, de maneira mais adequada e madura pelo fato de ter sido aperfeiçoado.

Creio que há ainda um outro aspecto de contar os dias. Contar no sentido de compartilhar/dividir. Posso contar os meus dias ao próximo. Contar as conquistas, as quedas, as vitórias, as derrotas, os medos, as ansiedades, o tempo deprimido, a euforia, as vergonhas, etc. Nessa caminhada comunitária (eu + o outro) há espaço para a construção da sabedoria também, tanto por eu conseguir ser mais saudável quanto pelo fato do outro poder ter voz em minha história, me ajudar a ver algo que não estou dando conta. O fato de sermos incompletos nos torna os melhores protagonistas do completar-se no outro. No Outro que é o Deus transcendente e no outro que parecido comigo tão humano, demasiadamente humano. Sabedoria não se constrói na solidão. O que pode vir de lá é tolice disfarçada de compreensão. Na solitude sim, pois ela é espaço necessário para que eu também me perceba a partir das reflexões que só ela possibilita. Mas, para o Deus que é comunidade por ser trino, a sabedoria emerge no estar com o outro.

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