Aos Que Negam A Palavra

“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução”, Machado de Assis (1839-1908).

 

Nestes dias marcados pelas ações de tenebrosos, reveladas em suas próprias palavras, veja-se um pouco do que elas representam. A origem vincula-se ao grego parabolé, daí para o latim parábola, e, em português “palavra”, traduzida como manifestação verbal ou escrita do pensamento humano. Sua sinonímia é, ao mesmo tempo, de grande extensão e riqueza, a exemplo de termo, vocábulo, opinião, afirmação, oração, acerto, alocução, discurso, dentre tantos outros, usados no dia a dia, e muitas vezes com pouca preocupação a seu respeito.

Quando se busca o seu significado e importância há muito a se considerar. A respeito dela o escritor português Latino Coelho assim se pronunciou “De todas as artes a mais bela, a mais expressiva, a mais difícil, é sem dúvida a arte da palavra”. De fato, torna-se necessário “arte” no emprego da palavra, face o significado que, no discurso, deseja-se divulgar ou não, induzir, denunciar, afirmar, negar…e por aí vai.

O autor destas linhas (palavras?!) recorda, em meados dos anos 60 do século passado, duma frase de Dom Helder Câmara ao ser entrevistado por jornalistas, em Recife, ao assumir a Diocese local: “Por favor, não me separem as palavras do contexto”…!

Mesmo reconhecendo a importância que a imprensa nacional dava à sua pregação contra as desigualdades sociais, Dom Helder demonstrava preocupação e zelava pela “arte”, observando o significado e as derivações que espíritos desavisados pudessem atribuir, com as conotações consequentes e indesejáveis, para suas palavras, isoladamente.

Interpretar palavras tornou-se exercício de poucos, vez que o seu mundo é complexo e, mais ainda, a vida requer um acervo imenso de vocábulos para explicá-las, entendê-las… fatos que poucos logram!

Da palavra assim afirmou o poeta-aviador francês Saint-Exupéry: “Fonte eterna de discussão”, isto, pois, com acerto, ao observar sua enigmática pluralidade porque fruto do ser humano, da sua compreensão, seus valores, interesses e motivações. E o que dizer da palavra não escrita, mas contida em entrelinhas, das não pronunciadas, porém subentendidas?

Evidente que, em si mesmo, todo vocábulo encerra um sentido, um significado, que se busca explicitar na comunicação, constituindo-se, portanto, no “conteúdo” ou “matéria”. É aí que se encontra o seu “poder”, pelas ideias que transcende, esclarecimentos que produz ou fundamentos que busca esclarecer. Dessa forma: A “força” da palavra significa convencimento; “dom” da palavra é oratória; “domínio” da palavra é cultura/conhecimento; “confiança” na palavra significa compromisso; “palavra de ordem” corresponde a prioridade/objetivo; e “falta de palavra” é sem-vergonhice ou falta de caráter (como, infelizmente, na atualidade, grassa no Brasil!).

De todos os homens, certamente ninguém há de contestar, foi o Divino Mestre de Nazaré aquele que, pela palavra, derrubou preconceitos profundamente arraigados, mostrou caminhos para uma humanidade de vida fraternal e, por ela, deu sua própria existência! Suas palavras são de tal ordem e magnitude que se afirmou de um dos seus momentos: “Desaparecendo do mundo todas as bibliotecas, todos os livros e publicações, mesmo assim restando uma cópia do “Sermão da Montanha”, nada se terá perdido! “… ou, quem sabe, pouquíssimo faltaria ao gênero humano, por tudo que ele representa, enfim pelas sábias palavras do Mestre Divino.!

E para reflexões, ao final destas linhas (palavras?!), graças à tradução do paraibano, poeta, escritor e tradutor José Lira, fica aqui registrado o pensamento da poetisa americana Emily Dickinson: “Dizem que a palavra/que agora alguém diz/morre agora/Mas eu digo que ela/começa a viver/nessa hora”.

 

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