Um ano passou voando, mais um ano de vida, volto-me para trás e recordo meu aniversário de dez anos, de repente, estavam de volta a roda de fiar de minha tia-avó e o paletó cinza escuro de meu avô, a máquina de costura Singer, o chapéu com a aba preta, além da máquina de datilografar Olivetti de meu pai, compreendo que toquei a carne viva de uma lembrança, naquela época parecia um tempo sem velocidade e urgência, um tempo mais desacelerado, onde os acontecimentos se desenrolavam com a típica lentidão dos anos 70.
Um calafrio sobe-me pelo corpo, pensando em tudo que vivi até aqui, tudo o que já fiz, tudo o que deixei de fazer.
Agora tenho inúmeras histórias em uma só, e no reluzir da minha consciência desfruto de mim mesmo e aprendo, de maneira terrena, com esta quantidade de anos que existe sempre um despedir de nós mesmos, a cada dia, e fico assim como um monge poeta enchendo a alma com as emoções do passado.
As chamas cintilantes dos desejos humanos agora arrefecidos. Eis mais uma dualidade: a forma como o tempo dá a sensação de ser simultaneamente imenso para o espírito e minúsculo para o corpo.
Um dia, somos grandiosos, estamos no centro do palco tudo é magia e encanto mas depois, somos um floco de neve, caindo em círculos entre as nuvens, penetrando pelo buraco na cúpula de um templo que vai nos diluindo, no solo e desaparecendo na eternidade.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.
- Nota da Redação:
Parabenizamos nosso colunista, que tanto nos aproxima da literatura por meio de seus artigos imbuídos de veracidade, mas, repletos de poesia e plenitude. Um jeito magnífico de ver e viver a vida; sobretudo nos tempos atuais.
Felicidades, João!!!