É diabólico, é um mal neste mundo construir armadilhas, colocando maçãs frescas e trigo para atrair os animais e, depois que se acostumam e ficam mansos, atirar na cabeça deles de um esconderijo. Gostaria de conhecer a escrita dos animais, os sinais com os quais pudesse escrever avisos para eles: “Não se aproximem deste lugar”, “Este alimento é letal”, “Fiquem longe das armadilhas”.
De lá, vocês não ouvirão ninguém pregar o evangelho, tampouco virá uma boa palavra, não lhes prometerão salvação depois da morte, não se compadecerão de sua pobre alma, pois eles dizem que vocês não possuem alma. Não verão em vocês um próximo, não lhes abençoarão. O pior dos criminosos, possuir uma alma, mas não você belo cão, nem você pato, porco ou passarinho. O ato de matar animais se tornou impune. E por ser impune, ninguém o percebe mais. E, já que ninguém percebe, não existe. Quantos passam pelas vitrines dos açougues onde grandes pedaços vermelhos de corpos esquartejados estão pendurados em exposição, acham que aquilo é o que? Não refletem sobre isso, não é? Ou quando pedem um espetinho ou um bife. Nada disso assusta mais. O assassinato passou a ser considerado algo normal, virou uma atividade banal.