“Aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou.” (1 João 2.6)
Que afirmação!!! Como você a ouve, como você a lê? É possível que leiamos e imaginemos a necessidade de uma vida que tenha pouco ou nenhum interesse terreno. Dentro de muitas tradições religiosas cristãs nos acostumamos a pensar em Jesus como portador de uma humanidade marcada por quietude e distanciamento da vida comum dos seres humanos. Não achamos adequado pensar em Jesus como alguém que chegasse a dar uma boa gargalhada ou fizesse piadas com as atitudes irrefletidas de seus discípulos. Jesus falando alto e dando abraços calorosos? Para muitos a ideia de santidade se opõe a tudo isso e portanto não combinaria com Jesus. Sabemos que Ele ia a casamentos e jantares, mas não o imaginamos dizendo: “Hummm! Que cordeiro maravilhoso! Posso comer mais um pedaço?” E livremente chupando a ponta dos dedos daquele jeito que muitos de nós fazemos quando comemos galinha ou costelinha de porco!
Quando pensamos em ser como Jesus, muito facilmente pensamos num certo esfriamento de nossa voluntariedade e expansividade. O que primeiro nos vem à mente são preceitos morais a serem observados, pecados a serem evitados e virtudes ou disciplinas espirituais a serem seriamente praticadas. Bem, não tenho dúvidas sobre o padrão moral de Jesus e sua elevada espiritualidade, mas se pensamos em andar como e um peso que anula nossa humanidade, nossa voluntariedade, domina a cena, estamos no caminho errado. Teremos alimentado uma visão maniqueísta da Jesus e compreendido de forma distorcida a benção de andar como Ele. E isso nos levaria a uma desumanização adoecedora como expressão de espiritualidade. Andar como Jesus significa, sobretudo, aprender a se relacionar com as pessoas como Ele se relacionou e a traduzir a vida como Ele o fez. E se cremos nEle, sim, devemos andar como Ele andou.
A orientação do apóstolo está correta e Jesus mesmo nos convidou a ir a Ele e aprender dele. Afinal, ideia de ser um discípulo é seguir os passos do Mestre! Mas precisamos conhecer melhor o Jesus revelado pelos Evangelhos. E para isso precisamos ler melhor os Evangelhos. Precisamos dar atenção à Sua bondade, misericórdia, Sua dedicação aos desamparados, pobres e desprezados. Precisamos notar como Ele era capaz de acolher, perdoar e andar com os pecadores, entre os quais estamos nós! É estranho pensar em ser como Jesus e revelar-se uma pessoa julgadora, intolerante, violenta ou prepotente. Ao contrário, ser como Ele é ser gracioso e cheio de esperança em relação ao ser humano. É não desistir do fraco. É revoltar-se com os poderosos que abusam e oprimem. É entender o sentido do sábado e o seu lugar em relação ao ser humano. Seguir a Jesus é uma estrada longa e cheia de aprendizado. E quanto mais o seguirmos e andarmos como Ele, tanto mais descobriremos quem somos e nos revelaremos nós mesmos.