Não é o câncer ou a tuberculose, dos quais se pode sempre fazer abstração quando se quer julgar o homem tal como realmente é. As doenças das alienações, como o Alzheimer e Demência, que no início ninguém percebe, pois o doente está sempre voltado para si mesmo, na sua desconexão e cheio de silêncio, ficando embaraço com a própria razão, tanto quando um gigante com a sua força quando brinca com uma criança.
Todas as suas qualidades de clareza, nitidez e precisão, voltam-se contra ele. O que distingue o homem do cão é a faculdade de fazer que uma noite se não pareça com outra, mas a alienação é a noite de um cão. Os mandamentos da vida racional com o Alzheimer modificam a forma como vemos as coisas, tanto nosso presente quanto nosso futuro mudam.
Que futuro tem um doente com Alzheimer? O homem é o único animal que tem a noção de futuro, e por isso se angústia. Esse é o grande drama humano, depois que fomos jogados para além das margens dos quatro rios do Jardim do Éden. O futuro. O futuro é a razão de nossos tormentos e da riqueza dos psicanalistas. O futuro! É o que representa aquela maçã. É a sugestão que ela nos faz. O futuro inquietante, o futuro incerto, o conhecimento que titila o desejo, mas que traz aflição. Mas não existe futuro para as pessoas dementes, só o presente desconexo.